sexta-feira, outubro 25, 2024

Cama de gato

 


Cama de gato, de Kurt Vonnegut é um dos livros mais estranhos que já li. Pensando bem, é o mais estranho com folga. Para começar, é difícil defini-lo: é ficção científica, sátira, fantasia, biografia fake? Algo ainda mais desconcertante é como um fato aleatório contado no livro mais tarde se relaciona com outro, que se relaciona com outro igualmente aleatório até que tudo parece se relacionar (o que torna praticamente impossível um resumo do livro).
Vonnegut inventa uma religião, o bokonismo e seus preceitos morais atravessam todo o livro, a começar pela citação d´Os livros de Bokomon: “Todas as verdades que estou prestes a contar são mentiras descaradas”, que poderiam se aplicar ao próprio Cama de gato.
Os bokonistas acreditam que a humanidade é dividida em equipes (karass) que realizam a vontade de deus sem nunca entender ou descobrir o que estão fazendo, como nos convida a cantar Bokonon:
"Oh, um grande bebum
No Central Park dormindo
E um caçador de leões,
Na selva agindo
E um dentista chinês
E uma rainha inglesa...
Todos servindo
Na mesma empresa
Lindo, lindo, lindo
Tanta gente diferente
O mesmo plano cumprindo"
A citação é uma boa uma descrição do emaranhado de subtramas e personagens aleatórios se unem no final da obra.
Uma tentativa de resumo seria a seguinte: um jornalista está escrevendo um livro intitulado “O dia em que o mundo acabou”, sobre o dia em que a bomba atômica explodiu sobre Hiroshima. Isso o leva a manter contato com os filhos de Felix Hoenikker, o inventor da bomba atômica e depois o leva a uma ilha no Caribe que ninguém quer e na qual todos seguem o bokonismo. Por trás de tudo isso parece estar uma invenção do professor Hoenikker, muito mais perigosa que a bomba atômica.
Essa descrição pode dar a entender que Cama de gato é um livro difícil, complexo, uma leitura para iniciados. Qual nada. Vonnegut tem uma narrativa deliciosa, quase como estivesse batendo papo com o leitor o tempo todo. Além disso, os capítulos são curtos e quase sempre dominados pelo humor irônico do autor. Você pode até não entender nada, mas certamente vai se divertir com isso.

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