Não há como falar em faroeste espaguete sem falar em O dólar
furado, filme de Giorgio Ferroni estrelado por Giuliano Gemma, lançado em 1965
(mesmo ano de Por uns dólares a mais, de Sérgio Leone).
O filme já nos prende desde a abertura, com uma animação com
a trilha sonora genial de Gianni Ferrio. Os créditos vão passando enquanto
pistoleiros duelam e portas de sallon se abrem e fecham, em perfeita sintonia
com a música. Sério, se a abertura não te conquistar, nada mais irá fazê-lo.
A trama ocorre pouco depois da Guerra Civil Americana e é
focada em um ex-soldado sulista, Gary O'Hara, cujo irmão resolve ir para o
oeste tentar a sorte, já que a perspectivas no sul não são das melhores. Os
irmãos combinam de se encontrarem tempos depois, em uma cidade na fronteira do
oeste chamada Yellowstone.
Chegando em Yellowstone, Gary descobre que o preconceito
contra sulistas é imenso em decorrência de um grupo de bandidos que pratica
seus assaltos com uniforme do exército confederado. Apenas o homem mais rico da
cidade, McCoy, o contrata para um serviço. Ele deve entrar no sallon desarmado e
dar voz de prisão para um suposto bandido chamado Black Jack. No meio dos
acontecimentos, ao olhar, no espelho, o protagonista descobre que Black Jack é
ninguém menos que o seu irmão, Phill. Mas é tarde demais: Phil vira-se e atira
nele e os homens de McCoy o matam alegando estarem defendendo um homem desarmado.
Os dois corpos são entregues a um casal de sulistas para que
os enterrem em algum lugar, mas os mesmos descobrem que Gary sobreviveu graças
a uma moeda de um dólar que parou a bala
- é o dólar furado do filme e um amuleto do herói.
Agora Gary O´Hara está de volta para se vingar do homem que
provocou a morte do irmão. Mas a situação se complica quando a esposa dele vai
até Yellowstone e é aprisionada pelos vilões.
Este é um faroeste italiano e a estética é suja, assim como a
história. Nada de heróis limpinhos que sequer se despenteiam durante uma briga.
Gary apanha muito, fica às portas da morte. A sequência em que ele é preso em
uma cerca pelos vilões impressiona não só pela crueza, mas por ser um show de
narrativa, principalmente pela sequência da reviravolta. É um ótimo exemplo,
aliás, de como usar o movimento de câmera para contar a história.
Talvez uma das razões pelas quais o faroeste espaguete tenha
feito tanto sucesso é que nele nós realmente acreditamos que o mocinho está de
fato correndo perigo de morte, o que faz com que sua vitória final se torne
ainda mais catártica, o que de fato ocorre aqui.
Clássico dos clássicos, O dólar furado figura entre os
grandes do gênero.
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