Marilyn Monroe é uma das maiores e mais icônicas estrelas do cinema. A cena da saia levantando em O pecado mora ao lado tornou-se uma das imagens mais famosas do século XX. Assim, não é de admirar que a vida da atriz se transformasse num filme: Blonde, dirigido por Andrew Dominik e estrelado por Ana de Armas e disponibilizado pela Netflix.
O resultado, no entanto, é muito, muito dúbio em decorrência de diversas escolhas de roteiro e direção.
A história começa com a infância de Marilyn e mostra os abusos sofridos pela garota por parte da mãe, que chega a tentar matá-la depois de uma longa sequência na qual a mãe tenta entrar numa estrada que está pegando fogo – e é impedida por um policial. A sequência, totalmente fictícia, é demasiadamente longa e deslocada. Até aquele momento o expectador não sabe quem que é a menina e pouco se importa com ela. A história funcionaria muito mais se começasse com a atriz famosa, ou em início de carreira e essa sequência, menor, fosse introduzida como flash back, de forma que o expectador reconhecesse na menina a atriz.
Além disso, há longas sequências de diálogos que não contribuem para a trama que provavelmente têm o objetivo de aprofundar a personagem, mas erram por paralisar a trama. Ao invés de parecer algo orgânico, essas sequências parecem apenas artificiais.
Outro problema é que nem roteiro nem direção se preocupam em situar o expectador, explicar o que está acontecendo, a exemplo de quando Marilyn conhece o jogador de beisebol Joe DiMaggio, que viria a ser seu marido. A cena começa com os dois já conversando num restaurante. Não sabemos quem é aquela pessoa, como se conheceram, nada. Nem mesmo o nome é dito. Uma simples cena de apresentação resolveria, mas Andrew Dominik não parece interessado em facilitar para o expectador.
Finalmente, talvez o aspecto mais negativo do filme seja o que muitos estão chamando de fetichização do sofrimento: Marilyn se resume a ser uma sofredora. Praticamente nenhum outro aspecto de sua vida ou sua personalidade é explorado. Até mesmo os momentos que poderiam ser de alegria só estão ali para fechar numa sequência de sofrimento, como na cena da praia com o escritor Arthur Miller.
Em tempo: o filme tem quase três horas de duração.
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