segunda-feira, novembro 25, 2024

Daniel Defoe – o náufrago do destino

 


Robison Crusoe é um dos livros mais famosos da literatura universal. A história do náufrago tendo que sobreviver em uma ilha deserta encantou gerações inteiras e levou a várias imitações. Pouca gente, entretanto, conhece seu autor, Daniel Defoe.
Filho de um presbiteriano, Defoe nasceu em 1660 e teve a infância marcada por duas tragédias: quando tinha cinco anos, a grande peste se alastrou sobre Londres, sua cidade natal, matando 70 mil pessoas. Um ano depois um grande incêndio devastou a cidade. Esses dois fatos, vividos na infância, o marcariam para sempre.
O pai de Poe queria que ele se tornasse ministro presbiteriano, mas, empolgado com a rápida evolução econômica da cidade, ele se tornou comerciante. Por força das circunstâncias, acabou também se envolvendo com a política.
Na época o rei da Inglaterra era Carlos II. O soberano chegara ao poder graças aos generais, que, fartos da ditadura religiosa de Oliver Cromwell, resolvera restaurar a monarquia. Mas para evitar novas perseguições e guerras religiosas, obrigaram o rei assinar a Declaração de Breda, que garantia liberdade religiosa para todos na Inglaterra. Mas, quando o rei morresse, o principal pretendente era seu irmão, Jaime II, católico fervoroso, que certamente traria de volta a perseguição religiosa.
O parlamento se dividiu entre dois grupos rivais, os tories, favoráveis a Jaime II e os whigs, contrários ao futuro monarca.
Quando Carlos II morreu, irrompeu a rebelião de Monmouth, que visava impedir a ascensão de Jaime II. Amante de aventuras, Defoe prontamente aderiu ao movimento. Derrotados, os whigs pediram auxílio ao holandês Guilherme de Orange.  Com a ajuda de generais ingleses, Guilherme tomou o poder e assinou o Ato de Tolerância religiosa.
Empolgado, o futuro escritor mudou seu nome de D.Foe para Defoe e expandiu seus negócios, mas perdeu tudo quando eclodiu a guerra da Inglaterra com a França. Seria a primeira vez que ficaria rico e perderia tudo, mas não a última.
Em 1701 se avizinhava nova guerra contra a França. Os tories criavam todas as dificuldades para que o país se preparasse para a guerra na esperança de que os franceses atacassem logo e destronassem Guilherme. Quando cinco cavaleiros apresentaram uma petição de defesa e foram presos, Daniel Defoe resolveu agir. Escreveu ele mesmo uma petição exigindo a libertação dos cavaleiros e o fim da indecisão da câmara. Seu texto era tão bom que acabou resultando libertação dos prisioneiros, especialmente ao se tornar público.
Com a morte de Guilherme de Orange a ascensão de sua cunhada Ana, os dissidentes religiosos voltaram a ser perseguidos e Defoe se tornou um alvo preferencial. Foi oferecida uma recompensa por ele. Preso, foi colocado num pelourinho, mas ao invés de cusparadas e insultos, como era comum, o povo lançava flores, tal a popularidade do escritor. Isso, no entanto, não o livrou da prisão.
A maneira de se safar foi editar um jornal para um dos principais líderes tories, Robert Harley. Nessa época, cada grupo político tinha que ter seu próprio jornal, o que garantia a Defoe renda e liberdade. Com o fim do reinado de Ana esses jornais perderam prestígio e acabaram fechados. Depois de ser um dos mais influentes jornalistas do país, Defoe estava mais uma vez desempregado e endividado.
Foi quando ele decidiu lançar-se na ficção para ganhar algum dinheiro e tentar pagar os credores. Soube de um marinheiro que vivera quatro anos em uma ilha deserta no litoral do Chile e resolveu escrever a história baseado nesse caso real. Assim nasceu Robison Crusoe.
Escrever um relato de aventuras depois de ter sido um dos jornalistas mais influentes da Inglaterra era um verdadeiro suicídio intelectual, um ato desesperado de alguém que precisava de dinheiro urgente.
Mas, para surpresa de todos, inclusive do próprio Defoe, o livro foi um sucesso absoluto.
A classe média identificou-se com o protagonista, que saído dessa classe social, soube vencer através do próprio esforço e  impor-se num mundo hostil. O livro atingiu um público que não se interessava pela literatura clássica: pequenos comerciantes, marujos, soldados.
Empolgado, Defoe escreveu vários outros livros de aventuras, inclusive continuações de Robinson Crusoe.  Nenhuma alcançou o sucesso do primeiro livro.
Claro, Daniel Defoe ficou rico. Mas perdeu tudo. Desapareceu por um tempo, provavelmente fugindo de credores. Morreu em abril de 1731. Embora desprezado em vida pelos intelectuais, depois de sua morte passou a ser considerado por muitos o criador do romance inglês.

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