A moça irrompeu, esbaforida, pela porta, enquanto a enfermeira terminava de aplicar o soro.
- Ei, não pode entrar agora!
- Rafael, Rafael! Você está bem? Vim correndo quando soube que você estava doente.
- Por favor, ainda não é o horário de visitas. Como a senhora conseguiu entrar? - perguntou a enfermeira, puxando a moça para fora.
- Não, não me afaste do meu Rafael! Por favor, me diga: ele está bem?
Nisso o doente se mexeu no leito, murmurando:
- Beatriz? Você está aí?
Foi o bastante. A mulher se desvencilhou dos braços da enfermeira e se jogou aos pés da cama.
- Rafael, Rafael, você ainda está vivo?
- Beatriz, você está aí? Eu não consigo vê-la...
- Mas ele só está... - interveio a enfermeira.
- Santo Deus, o que fizeram com o meu amado?! Você consegue me ouvir, querido?
- Beatriz? É você mesmo? Agora que vou morrer, quero que saiba que te amo...
- Oh, Rafael! Eu também te amo. Do fundo do meu coração...
- Beatriz, por favor, me dê um último beijo.
Houve um minuto de silêncio, ao fim do qual Beatriz pulou sobre ele, num último e ardoroso beijo de amor. A enfermeira tentou impedi-la, mas era impossível até mesmo saber quem era quem no meio dos aparelhos, seringas e tubos.
- Querida, você sabe o quanto eu amo você. - garantiu ele, depois que se desgrudaram. Não chore por mim. Também quero que você arranje outro homem. Não perca sua juventude por mim...
- Não, não me diga isso, meu amor, você vai sobreviver... E eu jamais terei outro homem...
Ficaram em silêncio. Beatriz enxugava as lágrimas com um lenço.
- Querida, agora que estou morrendo, acho que deveria saber de uma coisa. Lembra-se de Ana?
- A Ana?
- Sim, aquela estudava com você quando nos conhecemos...
- Rafael, você não...
- Eu tive um caso com ela.
- Não, não acredito... não é possível!
Ficou repetindo isso, balançando a cabeça em negativa, a enfermeira parada num canto, os olhos arregalados, sem saber o que fazer....
- Beatriz... agora que estou morrendo, não faz mais sentido esconder meu caso com Maria...
- A minha melhor amiga? Desgraçada!
- Calma, foi coisa pequena: durou só dois anos...
- Dois anos? Seu safado! Cretino!
- Cretino, eu? Pensa que não sei do Paulo?
Beatriz ficou estática.
- Paulo?
- Pensa que não sei? Tenho até fotos...
- Seu cretino! - gritou a mulher e pulou no pescoço dele.
- Gasp, gasp - fez o doente, envolvendo com as mãos o pescoço de Beatriz, que caiu no chão, sob ele.
Rolaram pelo chão do hospital até perderem as forças e só então caíram nos braços um do outro, jurando:
- Beatriz, eu te amo.
- Também te amo, Rafael.
A enfermeira ficou alguns instantes estarrecida, depois saiu do quarto, murmurando consigo:
- Esses hipocondríacos... e era só uma infecção intestinal.
Sem comentários:
Enviar um comentário