quarta-feira, novembro 13, 2024

Perry Rhodan 67 – Interlúdio em Silico V

 


Confesso que o número 67 de Perry Rhodan foi o único da série até agora que eu tive muita dificuldade para chegar até o final.

A trama gira em torno de Thomas Cardif, um recém formado tenente da Academia Espacial do Império Solar. O início do livro acompanha sua formatura e nesse sentido a narrativa lembra muito a primeira aparição de Julian Tifflor, o famoso Tiff, agora um coronel. Mas então descobrimos que Cardif na verdade é, sem saber, filho de Perry Rhodan. Não é fornecido nenhum detalhe sobre como ele foi criado (teria sido num orfanato?), mas sabemos que ele cresceu sem saber que era filho de Rhodan e de Thora.

Kurt Brand, o autor do volume, descreve assim a situação: “Tanto Perry, o pai de Thomas, como ela (Thora) só lhe desejavam o melhor. Queriam que Thomas se tornasse um verdadeiro homem por meio de seus próprios esforços e não em virtude da ilustre ascendência. Até que se transformasse em homem, teria de abrir seu próprio caminho, sem sentir a mão invisível do pai, que o dirigia sem que ele percebesse”.

Existe um tipo específio de roteirismo no qual o escritor força um personagem a fazer algo idiota apenas para que a trama se desenvolva. É como a pessoa que está escondida enquanto massa uma manada de zumbis e, sem motivo nenhum resolve sair correndo, passando na frente deles e sendo consequentemente perseguida.

Nenhuma das razões apresentadas para que Rhodan e Thora resolvesse criar o filho sem saber quem eram os pais é minimamente convincente. E fica claro, desde o primeiro momento, que estamos diante de uma receita para criar um neurótico. Pior: de todos, apenas Bell parece perceber que a estratégia é maluca e vai redundar em desastre, mas mesmo assim acaba sendo convencido por Rhodan, com argumentos totalmente vazios.

É muito estranho ver Rhodan, que sempre se mostrara um inteligente estrategista, fazer algo tão burro com óbvias implicações negativas.

A capa alemã, assim como a americana, é focada no sequestro de Thora. 


Mas tem mais. Como Thomas se formou na Academia, Thora resolve visitá-lo, o que é mostrado como um ato temerário, dando a entender que a ideia de Rhodan é que eles nunca se apresentassem ao filho. Durante a visita, ela é sequestrada por agentes do Robô Regente de Árcon e assim temos, mais uma vez, Rhodan correndo para salvar a esposa. A orgulhosa e imponente arcônida fica reduzida, mais uma vez, ao papel de donzela em perigo, o que decididamente é muito aquém do que ela merecia.

Na tentativa de achar a esposa, Rhodan coloca em ação vários grupos, entre eles um dirigido por seu filho Cardif e é justamente ele que encontra a pista para ela numa sequência totalmente forçada. Eles resolvem descer em um planeta para ver monumentos de uma civilização antiga, percebem radiação atômica, vão investigar, descobrem a localização de um planeta onde, sabe-se lá porque, acreditam que está Thora. A sequência inteira é forçada, sem nenhuma lógica entre os elementos. Parece que o autor estava com preguiça de criar melhor, mais lógico.

No final, quando Cardif descobre quem são seus pais, ele fica revoltado, mas essa revolta é creditada ao seu sangue arcônida, como se um humano não fosse se revoltar ao descobrir que fora abandonado pelos pais: “Não quis compreender! A herança materna, o sangue da mãe arcônida, fervia em suas veias, fazendo crescer em seu interior a cólera, o desprezo e o ressentimento frio”.

A reação de Rhodan ao filho é totalmente fria e agressiva, o que poderia ser um fator interessante, ao mostrar uma falha no personagem, mas isso é mostrado como uma atitude correta com relação ao filho arcônida.

Apesar de ser bem escrito (Kurt Brand tem um ótimo texto), a trama é tão desajeitada, tão forçada e irracional, que só conseguimos ir em frente com muita dificuldade.   

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