Uma das características da passagem de
Grant Morrison pelo Homem-Animal é o resgate de personagens obscuros da DC
Comics (a começar pelo próprio protagonista).
No número 16 da revista o herói enfrentou
um tal de Comandante do Tempo.
A história começa com um francês chavão
(com bigode e baguete debaixo do braço) andando pela rua quando alguém o chama
e pergunta as horas.
- Oh, sim! São... hã? Estranho! Meu relógio
quebrou!
E o estranho sai pela rua, rindo e batendo os
calcanhares, sob o olhar assustado do francês.
Esse início dá o tom da história: uma
mistura de leveza, humor e mistério.
Enquanto isso, a esposa de Buddy recebe uma
carta e descobre que uma editora aceitou seu livro. Para comemorar, o herói a
leva para Paris pelo teletransportador da Liga da Justiça. Isso, claro, é
apenas uma desculpa para colocar o Homem-Animal no palco dos acontecimentos.
Morrison emula os diálogos de JM DeMatteis na Liga.
Morrison mimetiza o estilo de J.M.
DeMatteis, escritor da Liga Europa à época, embora com menos texto, mas o mesmo
senso de humor.
A Liga precisa enfrentar o Comandante do
Tempo, que faz a cronologia enlouquecer. “O tempo ficou maluco! Nós vimos
tanques alemães e homens da caverna perseguindo Jean Paul Sartre! A revolução
francesa está acontecendo do outro lado da esquina!”, diz um dos personagens à
certa altura.
Temos, nesse único balão, alguns dos
cacoetes que tornariam Morrison tão querido e odiado: a mania de fazer citações
eruditas e uma tendência ao surrealismo ou ao dadaísmo, ou qualquer coisa
assim. Mas, se em trabalhos posteriores isso pareceria forçado e pedante, aqui
tudo é absolutamente natural e divertido.
Chas Troug nos traz belas imagens, como essa.
A descrição da confusão temporal é
perfeita: “De alguma rua distante, vem o urro de um dentes-de-sabre... uma
lâmina de guilhotina ressoa... Biplanos zumbem pelos céus azuis... os mortos e
os vivos estão reunidos... e o tempo está livre”.
Provavelmente uma das razões para que isso
não parecesse pedante era o traço de Chas Troug, leve, descompromissado e
totalmente voltado para contar a história. Ele, aliás, desenha uma bela splah
page com um dinossauro.
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