sexta-feira, dezembro 27, 2024

Nick Raider – Mosaico para um crime

 


O roteirista Giancarlo Berardi é conhecido por seu trabalho em Ken Parker e Júlia. Mas ele escreveu outros personagens bonellianos com a genialidade que lhe é peculiar. Berardi foi o responsável pela história Mosaico para um crime, da série Nick Raider – divisão de homicídios, publicado no número 4 da Mythos (primeira série).

A história tem todas as carcterísticas dos roteiros berardianos, como uma trama que começa focada não no protagonista, mas num personagem secundário ou aleatório. Assim, temos um casal de jovens tentando realizar a sua primeira relação sexual num parque da cidade de Nova York. Acompanhamos as desventuras dos dois, o que inclui uma moita cheia de pedras e espinhos e a passagem de um guarda, até que ocorre aquilo que será o gancho da trama: eles encontram a mão de uma mulher morta.

Essa garota estava desaparecida há dias (numa narrativa paralela, a mãe adotiva vai até a delegacia fazer a denúncia). Com a certeza de que a garota foi de fato morta, começam a investigações por parte da delegacia de homicídio, que interroga cada um dos suspeitos e das testemunhas.

Aqui entra característica marcante de Berardi: as falas incompletas, como se tivéssemos surpreendido duas pessoas no meio de um diálogo real, estratégia que dá muito mais verossimilhança à trama. Um exemplo: um dos investigadores vai entrevistar uma prostituta que pode ser testemunha de um hálibe: “Não quer mesmo?”, diz ela. “Não é o caso de se acanhar... ofereço de coração”. Nós só conseguimos entender do que ela está falando com a resposta do detetive: “Obrigado, não bebo!”.

Há uma outra característica na trama que chama atenção: surgem várias pistas de que o assassino é determinada pessoa, depois descobrimos que ela é inocente. Essa é uma estratégia muito usada por ótimos escritores policiais, mas Berardi inova ao fazer com que pistas encontradas contra um dos suspeitos sejam como gancho para mostrar que o assassino era outra pessoa, que não era suspeita.

O bom trabalho de Bruno Ramella também ajuda a dar o tom da história. Em tempo: difícil achar um desenhista ruim na Bonelli, especialmente pelo fato deles colocarem a arte a serviço da narrativa.

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