Rashmon é uma adaptação de Akira Kurosawa de
dois contos de Ryūnosuke Akutagawa.
A obra de Ryūnosuke Akutagawa foi reunida no
Brasil no volume Rashmon e outras histórias, da editora Cavalo de Ferro. Rashmon
era um portal que existia na entrada na cidade de Quioto e que, na época em que
se passa a história, tinha sido abandonado, servindo de local de desova de cadáveres
e de refúgio para ladrões. No conto, um servo se abriga no local durante a
chuva e acaba encontrando uma velha que está roubando os cabelos dos mortos
para fazer uma peruca.
Já No bosque de bambu conta a história de um
samurai que foi assassinado depois que sua esposa foi violentada pelo bandido
Tajomaru. O conto é a transcrição dos relatos das testemunhas. Primeiro é
apresentado o testemunho de Tajomaru, que admite ter matado o samurai. Mas a
coisa se complica quando a esposa do samurai testemunha e diz que foi ela a
autora do assassinato. E complica mais ainda quando a vítima incorpora em uma médium
para dizer que cometeu suicídio.
Kurosawa pegou esse material, que em si só já
era bastante original, e o tornou ainda mais instigante. Assim, um lenhador, um
monge e um ladrão se abrigam no portal Rashmon e começam a conversar sobre a
história, de modo que os relatos são apresentados em flash backs.
Kurosawa e o roteirista Shinobu Hashimoto
ainda acrescentam um quarto relato, o do lenhador, que, se por um lado, pode
ajudar a elucidar o que aconteceu, por outro lado pode ser outra mentira, já
que ele também tem interesse em esconder alguns fatos.
A estrutura narrativa foi tão revolucionária
que rendeu a Kurosawa diversos prêmios e fez surgir o que hoje em dia é chamado
de “efeito Rashomon”, termo usado para descrever situações em que o conflito
entre relatos torna impossível descobrir o que realmente aconteceu. Na área de
jornalismo o efeito Rashmon é usado para descrever o problema das fontes, que
nem sempre são confiáveis, pois podem estar enganando o jornalista, ou sendo vítimas
de lembranças falsas.
O filme também criou uma estrutura narrativa
em que vários personagens contam suas versões sobre os fatos, versões que são
discordantes entre si, a exemplo do faroeste Quatro confissões, dirigido por Martin
Ritt.
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