Quando alguém é malandro, não há nenhuma
regra que essa pessoa não consiga burlar, por mais rigorosa que seja.
Na época em que trabalhava em faculdades
particulares, havia um professor que sempre chegava atrasado, ocasionando
diversas reclamações da parte dos alunos. Se a aula começava 19 horas, ele
chegava 19:30, ia pra sala 19:45, dava cinco minutos de aula e já descia para a
sala dos professores.
Por conta desse único professor, elaborou-se
uma regra extremamente rigorosa, em que todos os professores tinham que assinar
o ponto exatamente entre 18:50 e 19:00 horas. Quem assinasse depois tinha
descontado do salário a primeira aula. Eu cheguei a ter desconto no meu salário
porque era coordenador de curso e, como estava atendendo uma aluna, acabei me
atrasando e assinando o ponto alguns minutos depois (sim, eu sei que isso é
ilegal – como eu disse, a regra era rigorosa a ponto da ilegalidade).
Pois bem, um dia, no meio da aula, acabou a
tinta do pincel e desci para pegar outro na secretaria, que ficava ao lado da
sala dos professores. Para minha surpresa, o tal professor estava lá, deitado
no sofá.
- Ué, professor, o senhor não tem aula hoje?
- Tenho sim. Eu assinei o ponto e vim dormir.
- me explicou ele.
Nunca descontaram um único centavo do salário
dele. Por outro lado, vários professores que tinham chegado um ou dois minutos
atrasados tiveram desconto.
No final, demitiram o professor e voltou tudo
como era antes.
Em outra faculdade, também por causa desse
mesmo professor, estabeleceu-se uma regra ainda mais rigorosa que valia para
todos os professores: os pontos eram assinados na frente da sala de aula. O
professor entrava, assinava e assinava de novo na saída. Isso, claro, gerou um
custo imenso, pois cada sala de aula tinha que ter alguém responsável pelo
ponto do professor.
Resolveu? Não.
O tal do professor chegava no horário,
assinava, entrava na sala de aula, sentava e ficava “esperando chegarem os
alunos”, depois passava meia hora escrevendo no quadro, da forma mais lenta
possível. Depois sentava e esperava meia hora para que os alunos copiassem. Só
então começava a aula, que durava de cinco a dez minutos. Depois sentava, fazia
a chamada da forma mais lenta possível e ficava esperando dar o horário para
liberar a turma.
No final, demitiram o professor e voltou tudo
ao que era antes.
Ou seja: nos dois casos, estabeleceu-se uma
regra extremamente rigorosa por conta de um único professor e não adiantou de
nada.
Quem é malandro sempre vai ser malandro e
sempre vai criar uma maneira de driblar as regras.
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