sábado, janeiro 04, 2025

Malandro é malandro

 


Quando alguém é malandro, não há nenhuma regra que essa pessoa não consiga burlar, por mais rigorosa que seja.

Na época em que trabalhava em faculdades particulares, havia um professor que sempre chegava atrasado, ocasionando diversas reclamações da parte dos alunos. Se a aula começava 19 horas, ele chegava 19:30, ia pra sala 19:45, dava cinco minutos de aula e já descia para a sala dos professores.

Por conta desse único professor, elaborou-se uma regra extremamente rigorosa, em que todos os professores tinham que assinar o ponto exatamente entre 18:50 e 19:00 horas. Quem assinasse depois tinha descontado do salário a primeira aula. Eu cheguei a ter desconto no meu salário porque era coordenador de curso e, como estava atendendo uma aluna, acabei me atrasando e assinando o ponto alguns minutos depois (sim, eu sei que isso é ilegal – como eu disse, a regra era rigorosa a ponto da ilegalidade).

Pois bem, um dia, no meio da aula, acabou a tinta do pincel e desci para pegar outro na secretaria, que ficava ao lado da sala dos professores. Para minha surpresa, o tal professor estava lá, deitado no sofá.

- Ué, professor, o senhor não tem aula hoje?

- Tenho sim. Eu assinei o ponto e vim dormir. - me explicou ele.

Nunca descontaram um único centavo do salário dele. Por outro lado, vários professores que tinham chegado um ou dois minutos atrasados tiveram desconto.

No final, demitiram o professor e voltou tudo como era antes.

Em outra faculdade, também por causa desse mesmo professor, estabeleceu-se uma regra ainda mais rigorosa que valia para todos os professores: os pontos eram assinados na frente da sala de aula. O professor entrava, assinava e assinava de novo na saída. Isso, claro, gerou um custo imenso, pois cada sala de aula tinha que ter alguém responsável pelo ponto do professor.

Resolveu? Não.

O tal do professor chegava no horário, assinava, entrava na sala de aula, sentava e ficava “esperando chegarem os alunos”, depois passava meia hora escrevendo no quadro, da forma mais lenta possível. Depois sentava e esperava meia hora para que os alunos copiassem. Só então começava a aula, que durava de cinco a dez minutos. Depois sentava, fazia a chamada da forma mais lenta possível e ficava esperando dar o horário para liberar a turma.

No final, demitiram o professor e voltou tudo ao que era antes. 

Ou seja: nos dois casos, estabeleceu-se uma regra extremamente rigorosa por conta de um único professor e não adiantou de nada.

Quem é malandro sempre vai ser malandro e sempre vai criar uma maneira de driblar as regras.

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