terça-feira, janeiro 07, 2025

Quarteto Fantástico – Namor contra a raça humana

 


No primeiro anual do Quarteto Fantástico, publicado em 1963, o grupo enfrentou novamente o rei dos mares, Namor. Não era só mais uma escaramuça entre eles, mas um plano definitivo de Namor para escravizar a humanidade.

Algo interessante aqui é que, embora nas primeiras histórias o personagem aparecesse sempre sozinho, aqui ele comanda as tropas de Atlântida, de modo que temos um vislumbre de toda uma ambienteção interessantíssima.

A Atlântida de Kirby é grandiosa. 


Na trama, Namor atrai o Quarteto ao oceano com o objetivo de fazê-los prisioneiros para logo depois libertá-los com uma mensagem: “Eu, príncipe Namor, proclamo que os sete mares e os céus que sobre eles se assomam são meu domínio imperial! Deste dia em diante, nenhum barco ou aeronave da superfície poderá violar o meu reino!”.

Isso acontece na página 13. É inevitável pensar que tudo até ali foi feito apenas para aumentar a quantidade de páginas necessárias para o anual. Afinal, Namor poderia simplesmente enviar sua mensagem, ou ir até sede do Quarteto em Nova York. Não era necessário que o grupo embarcasse em um cruzeiro, houvesse o sequestro e todo o resto.

O Quarteto é sequestrado durnate um cruzeiro. 


A sequência do Quarteto na ONU é um dos momentos melhores momentos da história, e igualmente um dos mais bizarros. Quando Reed Richards termina de falar, o representante da União Soviética toma a palavra: “Não importa o que as democracias digam, eu voto Nyet!”, grita ele, enquanto bate com o sapato na mesa. Mais caricato, impossível.

Para convencê-los, os americanos chamam um cientista, que explica a formação do povo de Atlântida. Surge um homem barbudo, de meia idade, que explica que muitas espécies surgiram do mar, mas outras voltaram para o mar, o que foi o caso do atlantes – e segue-se toda uma narrativa histórica sobre como os atlantes construíram sua civilização. Mas como o cientista poderia saber tanto sobre os atlantes? Simples: ele era na verdade Namor disfarçado! A segurança  da ONU, pelo jeito, é extremamente relapsa a ponto ser enganda dessa forma.

Um cientista explica a origem de Atlântida... 


Na mesma edição há uma história escrita por Stan Lee, desenhada por Jack Kirby e arte-finalizada por Steve Ditko, que reconta em detalhes uma sequência curta publicada originalmente na primeira revista do Homem-aranha, de quando ele resolve entrar para o Quarteto Fantástico e acaba comprando uma briga com os mesmos.

... e narra o surgimento de Namor. 


Essa história tem um grande valor por mostrar a importância da narrativa visual nos quadrinhos Marvel e as diferenças dessa narrativa de Kirby para Ditko.

Na história de Ditko as sequências são mostradas em detalhes, sem elipses abruptas e tudo parece mais verossímil. O Homem-Aranha usa sua teia para prender a mão do senhor Fantástico, desvia das chamas do Tocha e consegue se livrar da Mulher Invisível graças ao seu sentido de aranha.

O primeiro encontro do aranha com o Quarteto é recontado com traço de Kirby. 


Já Kirby faz elipses extremamente abrupta, mostrando fatos que teriam alguns minutos de distância entre si. Por exemplo, à certa altura a Mulher Invisível atira com uma arma futurista e o aranha cria um escudo de teia. Há, claro, um problema narrativo aqui. Ou o herói foi extremamente rápido, nível Flash, para construir o escudo, ou o raio da arma, era extremamente lento. O leitor precisa estar muito desatento para não perceber que há um problema narrativo.

As elipses de Kirby são abruptas. 


Kirby também inventa uns usos estranhos da teia. À certa altura, por exemplo, o quarteto liga um ventilador gigante e o aranha joga a teia de forma que ela se arrasta pelo chão rumo à hélice. Em outro momento ele cria, em microssegundos, um pilar de teia solidificada.

Lendo essa história, percebemos que Stan Lee tinha toda razão ao entregar o aracnídeo para Steve Ditko.

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