No primeiro anual do Quarteto Fantástico,
publicado em 1963, o grupo enfrentou novamente o rei dos mares, Namor. Não era
só mais uma escaramuça entre eles, mas um plano definitivo de Namor para
escravizar a humanidade.
Algo interessante aqui é que, embora nas
primeiras histórias o personagem aparecesse sempre sozinho, aqui ele comanda as
tropas de Atlântida, de modo que temos um vislumbre de toda uma ambienteção
interessantíssima.
A Atlântida de Kirby é grandiosa.
Na trama, Namor atrai o Quarteto ao oceano
com o objetivo de fazê-los prisioneiros para logo depois libertá-los com uma
mensagem: “Eu, príncipe Namor, proclamo que os sete mares e os céus que sobre
eles se assomam são meu domínio imperial! Deste dia em diante, nenhum barco ou
aeronave da superfície poderá violar o meu reino!”.
Isso acontece na página 13. É inevitável
pensar que tudo até ali foi feito apenas para aumentar a quantidade de páginas
necessárias para o anual. Afinal, Namor poderia simplesmente enviar sua
mensagem, ou ir até sede do Quarteto em Nova York. Não era necessário que o
grupo embarcasse em um cruzeiro, houvesse o sequestro e todo o resto.
O Quarteto é sequestrado durnate um cruzeiro.
A sequência do Quarteto na ONU é um dos
momentos melhores momentos da história, e igualmente um dos mais bizarros.
Quando Reed Richards termina de falar, o representante da União Soviética toma
a palavra: “Não importa o que as democracias digam, eu voto Nyet!”, grita ele, enquanto
bate com o sapato na mesa. Mais caricato, impossível.
Para convencê-los, os americanos chamam um
cientista, que explica a formação do povo de Atlântida. Surge um homem barbudo,
de meia idade, que explica que muitas espécies surgiram do mar, mas outras
voltaram para o mar, o que foi o caso do atlantes – e segue-se toda uma
narrativa histórica sobre como os atlantes construíram sua civilização. Mas
como o cientista poderia saber tanto sobre os atlantes? Simples: ele era na
verdade Namor disfarçado! A segurança da
ONU, pelo jeito, é extremamente relapsa a ponto ser enganda dessa forma.
Um cientista explica a origem de Atlântida...
Na mesma edição há uma história escrita por
Stan Lee, desenhada por Jack Kirby e arte-finalizada por Steve Ditko, que
reconta em detalhes uma sequência curta publicada originalmente na primeira
revista do Homem-aranha, de quando ele resolve entrar para o Quarteto
Fantástico e acaba comprando uma briga com os mesmos.
... e narra o surgimento de Namor.
Essa história tem um grande valor por mostrar a importância da narrativa visual nos quadrinhos Marvel e as diferenças dessa narrativa de Kirby para Ditko.
Na história de Ditko as sequências são
mostradas em detalhes, sem elipses abruptas e tudo parece mais verossímil. O
Homem-Aranha usa sua teia para prender a mão do senhor Fantástico, desvia das
chamas do Tocha e consegue se livrar da Mulher Invisível graças ao seu sentido
de aranha.
O primeiro encontro do aranha com o Quarteto é recontado com traço de Kirby.
Já Kirby faz elipses extremamente abrupta,
mostrando fatos que teriam alguns minutos de distância entre si. Por exemplo, à
certa altura a Mulher Invisível atira com uma arma futurista e o aranha cria um
escudo de teia. Há, claro, um problema narrativo aqui. Ou o herói foi
extremamente rápido, nível Flash, para construir o escudo, ou o raio da arma,
era extremamente lento. O leitor precisa estar muito desatento para não
perceber que há um problema narrativo.
As elipses de Kirby são abruptas.
Kirby também inventa uns usos estranhos da
teia. À certa altura, por exemplo, o quarteto liga um ventilador gigante e o
aranha joga a teia de forma que ela se arrasta pelo chão rumo à hélice. Em
outro momento ele cria, em microssegundos, um pilar de teia solidificada.
Lendo essa história, percebemos que Stan Lee
tinha toda razão ao entregar o aracnídeo para Steve Ditko.
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