segunda-feira, março 31, 2025

Titãs - a série

 


Quando foram divulgadas as primeiras fotos não oficiais da série Titãs, o seriado recebeu uma enxurrada de críticas. Os fãs morderam a língua. Titãs é o melhor seriado de super-heróis de todos os tempos e melhor que 90% de todos os filmes de super-heróis já lançados.
Para quem não conhece quadrinhos, Titãs é baseado no grupo de parceiros mirins da DC Comics. Sim, durante um longo período todo super-herói tinha que ter um parceiro mirim. Batman tinha o Robin, Mulher Maravilha tinha a Moça Maravilha, Flash tinha o Kid Flash e assim por diante.
Na década de 60 a DC teve a ideia de reunir esses heróis mirins em uma revista, Teen Titans. Não deu muito certo. Os personagens usavam gírias da década de 40 ou 50, eram extremamente respeitosos com os heróis principais e tinham a metade do tamanho desses. Ou seja, não agiam como jovens.
Na década de 1980, o roteirista Marv Wolfman, que odiava o gibi quando era jovem, resolveu mostrar como se faz uma série para a juventude. Além de criar novos personagens, como Ravena, Estelar e Mutano, ele mudou a relação dos parceiros com os heróis. Robin, por exemplo, passou a ter uma relação de conflito com o Batman. Foi um sucesso tão grande que levou à criação de três animações (a mais recente voltada ao público infantil) e o live action, criado, entre outros pelo roteirista de quadrinhos Geoff Johns e lançado recentemente pela Netflix.
E o que Titãs tem de revolucionário?
Essencialmente a forma como é estruturado um seriado de super-heróis. Tirando os heróis urbanos da Marvel, como Demolidor, a maioria desses seriados é focada em heróis em uniformes coloridos lutando a cada episódio contra um vilão, em meio a uma grande quantidade de efeitos especiais meia-boca (o orçamento dos seriados é bem menor que o dos filmes).
Titãs quebra com esse esquema ao se estruturar como um seriado de mistério. O expectador não sabe quem são os personagens e, em alguns casos, nem eles mesmos sabem (como é o caso de Estelar e Ravena) e mesmo aqueles heróis que conhecemos como tal desde o início, a exemplo do Robin, têm algo a ser revelado. Além disso, há uma trama maior, que também se revela um mistério - quem quer matar Ravena?
Essa estrutura faz com que o seriado seja interessante não só para os fãs de quadrinhos, mas para os expectadores em geral.
Além disso, muda o foco da trama da ação e os efeitos especiais para o desenvolvimento dos personagens – e esses são muito bem desenvolvidos. Nesse sentido, a escolha de atores foi acertadíssima. Destaque para Teagan Croft, no papel de Ravena e Anna Diop, no papel de Estelar. Aliás, a criticada roupa usada por Anna Diop na série acaba fazendo todo sentido, dentro da proposta do seriado.
Os efeitos especiais, quando aparecem, são em momentos chave, e muitas vezes, nem exigem o famoso CGI. Há uma cena, por exemplo, em que Ravena usa seus poderes que é feita exclusivamente com maquiagem, interpretação e montagem.
Bons diretores já haviam mostrado que para fazer produções sobre seres super-poderosos não é necessário uma fortuna em efeitos especiais – basta uma boa direção, bom roteiro e bons atores. Scanners, filme de 1981, de David Cronenberg, é um exemplo. Mais recentemente, a trilogia de Shyamalan (Corpo Fechado – Fragmentado – Vidro) é outro.
Titãs parece mostrar que a DC aprendeu essa lição: Boa direção, efeitos especiais na medida certa, bons atores, bons roteiros e uma trama que vai num crescendo até o capítulo final.
Se não bastasse tudo isso, há o ótimo capítulo com a Patrulha do Destino (que o tradutor da Netflix rebatizou como Patrulha dos Condenados) e uma visão do Batman muito mais adequada que todos os últimos filmes da DC. A forma como o Homem-morcego - e Gothan - é mostrado na série (ou não é mostrado) é simplesmente genial e lembra grandes obras dos quadrinhos, como Asilo Arkhan.

Rio Pedreira Eco Hostel

 



O Rio Pedreira Eco Hostel fica em Santo Antônio da Pedreira a 45 km de Macapá, indo pela AP 070 (rodovia do Curiaú). São três chalé à beira do rio Pedreira. 

Cada chalé tem o nome de uma localidade: Santo Antônio, Lontra e Abacate. O Lontra é o maior, contando com duas camas de casal e uma cama de solteiro. Os outros têm uma cama de casal e uma cama de solteiro. Os chalés contam ainda com geladeira, fogão, pia, churrasqueira, talheres, pratos e panelas. 

O local não serve comida, então é necssário levar tudo que for consumir, inclusive água. Em Santo Antônio existe uma mercearia que vende itens básicos, como água, ovos e pão. Também é possível comprar queijos regionais. 

O grande atrativo do Rio Pedreira Eco Hostel é a proximidade com a natureza e a bela paisagem. Os chalém ficam próximos da floresta e é possível ouvir todo tipo de sons do mundo animal, incluindo o ritual dos macacos bugios, cujos urros são ouvidos por toda a região. Esse ritual normalmente acontece no início da manhã e da noite. A proximidade com a floresta também torna a temperatura muito mais agradável do que na cidade. 

Outra atração, claro, é o rio. O local conta com um tablado, o que facilita para quem está com criança. Mas atenção: a correnteza pode se tornar forte, então é preciso atenção total aos pequenos. 

Enfim, o Rio Pedreira Eco Hostel é um local para ir com a família, relaxar e se divertir. 

As diárias custam 150 reais por casal (pessoas a mais pagam 50 reais cada - crianças até 6 anos não pagam). As reservas devem ser feitas com a simpática proprietária do local, a Sandra, pelo número (96) 991156162.  

O local conta com três chalés. 


Todos os chalés têm cama de casal e solteiro. Também é possível armar rede. 

A estrutura dos chalés conta com fogão, geladeira e churrasqueira. 

A belíssima paisagem é um dos atrativos do local. 

As refeições podem ser feitas do lado de fora dos chalés. 

Um tablado torna mais seguro o banho no rio Pedreira. 

Caçador - o anti-herói da DC Comics

 


Embora tenha escrito diversas histórias de super-heróis, o roteirista Archie Goodwin nitidamente gostava mesmo era de histórias policiais e de espionagem (algo que ele fazia com perfeição na tira Agente secreto Corrigan, em parceria com Al Williamson). Em 1973 ele uniu esses gêneros em um dos melhores (e menos conhecidos) personagens da era de bronze: Caçador.
Inspirado em um personagem antigo da DC, o Caçador tinha histórias de oito páginas, desenhadas por Walter Simonson e era publicado na revista Detective Comics (nos dois últimos capítulos tiveram a participação do astro da revista, Batman).
Eram apenas oito páginas, mas chamavam a atenção pelos roteiros bem elaborados e pela arte revolucionária.
Primeira página da primeira história: narrativa em flash back.  

A primeira história já dava o tom da série.
Uma agente da Interpol, Christine St. Clair vai ao Nepal atrás do misterioso personagem chamado Caçador. Ali ela encontra com um ancião que lhe conta tudo que sabe sobre o personagem: sobre como ele invadiu a Seita dos ladrões onde aparentemente foi para matar um revolucionário refugiado, mas no final, descobriu-se que seu objetivo era salvar sua vida. A trama toda é contada em flash backs, de acordo com a narrativa do velho em sequências de ação extremamente dinâmicas e diagramação nada convencional. No final, quando a agente vai embora, descobre-se que o velho, na verdade, é o próprio Caçador.
Hoje, tanto anos depois, é impossível não perceber que Frank Miller bebeu muito dessa série. As sequências, por exemplo, lembram muito a narrativa visual de Miller no Demolidor.
Caçador destoava de outros heróis da época por ser mais parecido com um anti-herói, que matava sem piedade quando necessário.
A narrativa visual lembra o que Frank Miller faria anos depois no Demolidor. 

Seu visual, por outro lado, é icônico: a roupa vermelha com ombreiras que lembram as roupas de samurai; a máscara simples e adereços nas pernas que, se fossem reais, iriam dificultar muito seus movimentos, mas nos quadrinhos davam um visual perfeito e arrojado.
Se Simonson carregava na experimentação visual, Goodwin se esmerava em produzir narrativas pouco convencionais. Uma das histórias, por exemplo, é focada numa família de turistas que visita uma catedral antiga onde o Caçador enfrenta seus inimigos da sociedade secreta, o Conselho. O único da família que consegue perceber o que está acontecendo é o menino, vestido de cowboy, mas nem seu pai, nem sua mãe lhe dão atenção. A história é toda focada no menino, inclusive em sua intervenção essencial na história.

A série teve apenas oito capítulos, mas marcou época, sendo lembrada com carinho pelos fãs.    
Uma curiosidade é que o Caçador, criado um ano antes do Wolverine, já tinha o fator de cura.
No Brasil essas histórias foram publicadas em revistas da editora Abril e reunidas no volume 1 de Lendas do Cavaleiro das Trevas – Archie Goodwin.

Perry Rhodan – Gigantes do polo sul

 


No número 213 da série Perry Rhodan os personagens estão miniaturizados (em uma proporção de um para mil) na superfície do planeta Horror. A única chance de voltar ao normal parece ser destruir a base no polo sul, o que, teoricamente, os devolveria ao tamanho normal.

Mas como seres minúsculos, reduzidos a insetos, poderiam destruir uma base com quilômetros de extensão? E pior: sem poder usar armas atômicas, já que todo o material atômico perdeu sua função durante o processo de miniaturização. Além disso, eles podem contar apenas com aviões dos modelos antigos.

O volume é o relato dessa missão suicida e árdua cujo melhor momento é a escalada pela cúpula que protege a base. Os personagens são tão pequenos que conseguem descansar nas reentrâncias do metal.

Capa alemã. 


Além da própria dificuldade da escalada em si, o grupo ainda precisa levar os explosivos. Apesar de ser um peso enorme para os personagens miniaturizados, tudo junto representa apenas um quilo de explosivos. Seria possível causar algum dano real no equipamento que provocou a miniaturização?

O livro é escrito por H.G. Ewers, que faz um bom trabalho, descrevendo bem todos os obstáculos enfretados pelos personagens, apesar de algumas partes que não fazem sentido ou não estão contextualizadas. À certa altura, por exemplo, o autor solta a frase: “E tudo isso se juntava ao ruído provocado pelos átomos liberados...”, mas não explica o que está provocando isso. Parece que o autor tinha em mente a explicação para essa frase, mas esqueceu de colocar no livro.

Mas o maior problema desse volume é que ele parece totalmente descartável. A missão é um retumbante fracasso e não interfere em nada na situação dos terranos. Eles chegam lá, percebem que o local é grande demais para se procurar um local estratégico, e simplesmente montam a bomba na engrenagem mais próxima e depois saem correndo. E, claro, isso não provoca nenhum dano real, servindo apenas para colocar as defesas da base mecanizada no encalço dos aviões, provocando mais e mais situações de desgaste físico e mental.

domingo, março 30, 2025

Perry Rhodan – O olho vermelho do sistema Beta

  

O número 48 de Perry Rhodan, escrito por Clark Darlton, é um livro viciante por ser a continuação de uma trama muito bem elaborada, que fechava o primeiro ciclo.

Nos números anteriores, os aras resolvem acabar com a Terra e para isso usam os saltadores e superpesados, mas os mutantes conseguem entrar na nave do único superpesado que sabe a posição de nosso planeta e mudam as informações do computador.

A ideia era enganar os aras, saltadores e superpesados, fazendo-os atacar o terceiro planeta do sistema Beta como se fosse a Terra.

O olho vermelho do sistema Beta é focado nas duas naves terrenas que são envidas para esse sistema com a missão de rechaçar os ataques dos superpesados, simulando uma defesa terrena. Mas o major Deringhouse está curioso com o quarto planeta, onde há registro de vida inteligente e resolve investigar, o que leva à trama do volume e à solução magistral para o conflito que se avizinha.

A capa original alemã. 

É o próprio Deringhouse que batiza o quarto planeta, chamando-o de Aqua.

O planeta é uma incógnita, pois é quase todo tomado por um mar, com uma pequena faixa de terra do tamanho da Europa. No entanto, a única construção que os terrestres encontram é uma construção baixa, com cúpulas, na beira da água. “É uma coisa singular”, pensa o major. “O planeta só tem esse continente e a gente supõe que os habitantes teriam que aproveitar cada metro quadrado. Devia haver lá embaixo um emaranhado de casas e instalações como em nossas capitais. E o que vemos? Nada, absolutamente nada. Onde estão os homens?”.

Essa pergunta estabelece o clima de mistério do volume e é a principal razão pela qual a leitura é interessante no início.

Entretanto, depois, quando os humanos dão de cara com os tópsidas, a trama pega fogo e ganha uma reviravolta inteligentíssima. Os tópsidas foram um dos primeiros adversários siderais dos terranos. Seres reptilianos, eles tentavam invadir o sistema Veja e foram impedidos pelo grupo de Rhodan, que chegou ao ponto de lhes roubar uma nave.

Ao colocar os tópsidas nesse volume, Scheer, o autor da trama geral, costura perfeitamente a história, criando uma situação em que estão no palco todos os principais inimigos dos terranos nesse primeiro ciclo, o que deixa o leitor ainda mais apreensivo para ler o volume seguinte. 

Livro analisa a cultura pop

 


 

Cultura pop, comunicação e linguagem é uma antologia organizada por Ivan Carlo Andrade de Oliveira (Gian Danton) e Rafael Senra. Divididos em artigos e ensaios, os textos abordam os mais diversos temas dentro do leque da cultura pop.

No âmbito dos quadrinhos, começamos com uma análise da adaptação da história de Conan "A torre do elefante", passando pelo conceito de Gynoid no mangá "Hyper future vision", e até uma interpretação da jornada do herói a partir da saga "Estação das brumas" em Sandman. No campo da música, temos uma abordagem semiótica da capa do álbum "Artpop" da cantora Lady Gaga, e, na interface entre literatura e outras mídias, uma análise de adaptações da obra "The Witcher".

Para completar o livro, os ensaios tratam de representações da Grande Depressão em dois quadrinhos, além das obras de Chris Ware e, para concluir, uma reflexão sobre o papel de Jim Shooter no comando da editora Marvel Comics. 

Para baixar, clique aqui

Sargento Rock – Gargalhadas no Monte Cobra

 


Era muito comum que as histórias de Sargento Rock escritas por Robert Kanigher partissem de uma situação específica, que era ampliada para se transformar numa HQ. Em Gargalhadas no Monte Cobra, publicada em Our Arm to War 84, a história toda gira em torno de uma piada.

A situação é expressa logo na splash page inicial, um oficial nazista aponta sua arma para a frente, enquanto um tanque atira e diz: “Os amerikaners estão rindo! Eles enlouqueceram devido ao nosso ataque!”. O quadro é dominado por onomtopéias de risadas.

Os americanos ficaram loucos? 


Na história, a companhia Moleza recebe a missão de tomar o Monte Cobra, onde está entrincheirada uma formação nazista. A situação é totalmente contrária: para começar, o solo é duro demais, de modo que eles não conseguem cavar trincheiras.

No final, eles acabam se abrigando nos buracos provocados pelos bombardeios e oferecem forte resistência. São dias e dias assim, entrincheirados, rechaçando todos os ataques do destacamento nazista.

A Companhia Moleza se abriga nos buracos provocados pelos bombardeios.


Quando uma unidade norte-americana vai substitui-los, ao invés de abandonarem seus postos, os homens da moleza simplesmente começam a rir, o que nos leva à situação inicial.

Qual seria a piada?

A piada é que eles estavam tão cansados que não conseguiam sair do lugar – um aspecto central do roteiro que cai por terra quando os nazistas fazem a derradeira investida e são derrotados. Ainda assim, é uma história divertida e bem desenvolvida. Uma curiosidade é que essa hq é desenhada por Irv Novick, e não por Joe Kubert, o co-criador do personagem.

Fundo do baú - O bem-amado

 


Nenhuma série  de televisão conseguiu sintetizar tão bem a política brasileira quanto O bem-amado, de Dias Gomes. Exibida de 1980 a 1984, era baseada numa novela do próprio Dias, de 1973 e, por sua vez, era baseada numa peça de teatro da década de 60. Dias Gomes usava o humor para criticar, de maneira genial, a ditadura militar e a classe política brasileira.

Na história, Odorico Paraguaçu (interpretado por Paulo Gracindo) era um típico coronel do interior da Bahia que domina completamente a política da região.  Sua obsessão é inaugurar o novo cemitério da cidade, mas há um problema: ninguém morre em Sucupira. Na história original, Odorico é morto pelo seu jagunço Zeca Diabo (Lima Duarte), sendo, ironicamente, o cadáver que inaugura o cemitério.

Na década de 80, Dias Gomes ressuscitou a história, mudando o contexto e ampliando muito a trama (os personagens chegam a viajar para Nova York) e usando o pano de fundo para criticar tudo que ocorria na política nacional.

Odorico era famoso pelas frases de efeito e pelos neologismos, como “Vamos botar de lado os entretantos e partir logo pros finalmentes”, “Pra cada problemática tem uma solucionática”, “mormente”, “apenasmente” e “bastantemente”.

Além de Odorico e Zeca Diabo, o seriado contava com outros personagens marcantes, como as irmãs Cajazeiras, que idolatravam Odorico e o defendiam mesmo quando fazia as piores barbaridades, e o tímido e gago secretário Dirceu Borboleta, seu puxa-saco oficial.

Miss Potter

 

 

Beatrix Potter foi uma das mais importantes escritoras e ilustradoras infantis de todos os tempos. Suas obras sobre animais revolucionaram o gênero no século XIX e a tornaram rica, o que lhe permitiu comprar diversas fazendas para transformá-las em reservas ambientais.

É a história dessa personagem fascinante que o diretor Chris Noonan conta no filme Miss Potter, disponível na Netflix. Nooman é o mesmo diretor do filme Babe, sobre um porquinho, o que o torna a pessoa certa para o projeto.

Noonan usa live action e animação em sua narrativa. Assim, se por um lado temos os atores, em um ótimo elenco encabeçado por Renée Zellweger, por outro, temos cenas de animação, nas quais os personagens de Potter, a exemplo de Peter Rabbit, interagem com a protagonista. Isso dá uma leveza única para a narrativa.

Mas não pense que se trata de um filme apenas leve. Há momentos de drama e conflito, em especial com a mãe, que se nega a perceber os méritos e sucessos da filha e a quer casar com um jovem da nobreza, afinal, a família Potter era formada por novos ricos, que ansiavam por ascender socialmente – e o casamento de Beatrix era um caminho para isso.

Beatrix Potter, como mostra o filme, não era apenas uma inovadora na literatura, mas também no papel das mulheres na sociedade da época.

O filme inclui até mesmo momentos de drama, mas mesmo nesses momentos não perde a leveza e o encanto.

sábado, março 29, 2025

A arte de Garcia-Lopez, o homem DC

 

Na década de 1970 surgiu um desenhista que redefiniu o visual dos personagens DC até então considerados antiquados na comparação com os vibrantes heróis Marvel. Com um traço extramamente elegante, José Luis Garcia Lopez logo chamou atenção. Durante toda a década de 1970, ele fez quase todo o material promocional da editora. Muitas crianças daquela época tiveram cadernos, lancheiras e mochilas com desenhos do Garcia Lopez. Ainda hoje são vendidos alguns desses materiais. Ainda hoje, praticamente todo o material licenciado da DC, em especial camisas, trazem desenhos desse mestre (o recente sucesso do filme da Mulher Maravilha fez com que seu desenho da amazona se espalhasse pelas lojas). Curta as imagens abaixo.














A forma da água

 


Guilhermo del Toro é um cineasta famoso por filmes de fantasia, com uso intensivo de efeitos especiais (a exemplo de Hell Boy). Embora sempre tenha feito um sucesso relativo, em especial entre os fãs do gênero, nunca o vimos arrebatando prêmios, como no caso de A forma da água, sua mais recente película.
Por um lado, o óscar de melhor filme mostra que a academia está mais aberta a esse tipo de obra. Por outro lado, mostra uma evolução do diretor: A forma da água é muito mais que um filme de fantasia com ótimo uso de efeitos especiais. É uma fábula muito bem construída em que diversos elementos – da fotografia à trilha sonora.
Na história acompanhamos a rotina solitária de uma faxineira muda que trabalha em um laboratório do governo. Tudo muda com a chegada de uma criatura capturada no rio Amazonas, um ser meio homem – meio peixe, que era considerado um deus pelos indígenas. Em plena guerra fria, a criatura passa a ser disputada pelos dois lados do conflito – seu pulmão capaz de respirar na água e na superfície pode ser fundamental na corrida espacial. A trama gira em torno da relação da faxineira com a criatura e a inusitada história de amor que surge desse encontro.
A Forma da água é uma história sobre desajustados, seres que vivem à margem da sociedade. A história da criatura incompreendida e da faxineira muda são uma metáfora de outros excluídos (no filme há referências diretas aos negros e gays, ambos vítimas de forte preconceito, em uma época em que uma pessoa podia perder o emprego apenas por descobrirem que ela era homossexual).
Em suma: um filme bonito, sensível (que lembra, por exemplo, Edward Mãos de tesoura), em que tudo se encaixa inclusive nos pequenos detalhes, como na gelatinha verde servida pela esposa ao chefe de segurança.
Pena que uma história tão bem construída tenha uma falha de roteiro tão gritante: a criatura foi capturada no rio Amazonas, portanto em um rio de águas doces, distante centenas de quilômetros do mar – mas na história precisa ficar imerso em água salgada para não morrer.

Roteiro de quadrinhos: a construção de personagens

 


A construção de personagens tem sido tema de teóricos teatrais, cinematográficos, etc... sem que se chegue a uma conclusão decisiva. De modo que não pretendo dar a última palavra sobre o assunto. Longe de mim. Mas posso dar alguma dicas.
                A primeira delas é aprender a observar as pessoas. Da mesma forma que um desenhista precisa precisa ver um anão para desenhar um anão, um roteirista precisa conhecer e entender um neurótico para poder escrever sobre um personagem neurótico.
                Há um exercício muito útil : observar as pessoas no ônibus. Escolha uma pessoa e comece a observá-la, dando uma de Sherlock Holmes. Através da aparência externa, tente descobrir quem é aquela pessoa, como ela pensa, de onde vem... 
                Por exemplo, se, de noite, você encontra no ônibus uma  garota muito bem vestida, é provável que ela esteja indo para uma festa. Se ela estiver levando cadernos ou uma bolsa grande, essa teoria estará furada, pois pessoas normais não costumam levar cadernos para festas. Pelo tipo de roupa é possível imaginar para que festa ela está indo. Se ela olhar insistentemente no relógio, é provável que a tal festa signifique muito para ela. É provável que nessa festa esteja alguém importante. Um ex-namorado do qual ela ainda gosta, por exemplo. Ela sabe que a festa será uma grande chance para a reconciliação e por isso se sente ansiosa...
                Você pode compor todo um perfil psicológico baseado  nessas especulações. Essa  garota poderá ficar numa espécie de "arquivo mental" para ser usada posteriormente em uma história.
                Outra grande dica é pesquisar livros de linguagem corporal. Na maioria das vezes o corpo fala mais do que as palavras. O escritor policial Dashiel Hammett era um especialista no assunto. Suas descrições detalhadas dos gestos dos personagens muitas vezes indicavam ligações insuspeitas entre estes  que iriam influenciar no final da história...
                Um exemplo quadrinístico. Quem tiver conhecimentos mínimos de linguagem corporal vai percerber que o personagem Rorschach, de Watchmen, é um homossexual e nutre uma paixão platônica pelo amigo Nite Owl.
                Ainda sobre a criação de personagens, é importante ter em mente o que ele significa, o que ele representa. Batman é um homem obcecado pela idéia de ordem. "O mundo só faz sentido se você o força a ter", ele diz em Cavaleiro das Trevas. Batman é o protetor de Gothan e, para cumprir a missão que ele mesmo se incubiu, vale qualquer coisa, até mesmo recrutar uma criança (no caso, o Robin).

                A história Para um Homem que Tem Tudo é um interessante estudo de personagem. Nela, descobrimos que o maior sonho de Super-homem é que Kripton não tivesse sido destruído. O maior sonho de Batman é que seus pais não tivessem morrido. Portanto, se seus sonhos tivessem se realizado, eles jamais seriam super-heróis. Super-homem sente-se um alienígena em nosso planeta, um órfão completo. Já Bruce Waine talvez se sinta culpado pela morte dos pais. Moore expõe sua opinião de que só pessoas neuróticas e infelizes se tornariam super-heróis.
                Os personagens normalmente podem ser divididos em categorias, de acordo com o grau de importância dos mesmos na trama. Assim, temos:

                Protagonista – é o personagem principal, aquele que o leitor irá acompanhar. A história será vista do ponto de vista do protagonista.

                Antagonista – é o vilão, muito comum em histórias de super-heróis e filmes.

                Personagens secundários – são aqueles personagens que convivem com o protagonista e com o protagonista. Boas histórias costumam ter personagens secundários bem desenvolvidos, com uma personalidade e uma história de vida.
                Personagem bucha-de-canhão – essa categoria é uma brincadeira feita entre roteiristas e se refere àqueles personagens que não têm importância nenhuma na trama. Eles surgem na história só para dar o gancho de alguma situação. Pode ser, por exemplo, o assaltante que rouba o dinheiro do protagonista, fazendo com que ele caia numa maré de azar que será o tempero da trama.
                Do ponto de vista da personalidade, os personagens podem ser divididos em:

                Personagem unidimensional – é o personagem que tem uma dimensão, uma só característica que domina seu comportamento. Por exemplo, a Magali é comilona, o Cascão é sujo, a Mônica é brava. No começo dos quadrinhos de super-heróis a maioria dos personagens eram unidimensionais. Na década de 1990, na era Image, também predominaram personagens unidimensionais.

                Personagem bidimensional – são personagens mais elaborados. Nos quadrinhos de super-heróis, um grande responsável por tornar mais bidimensionais os heróis foi Stan Lee. Seus heróis sempre tinham um pé de barro, algo que os fazia mais humanos. Assim, Thor é um ser extremamente poderoso, mas também é Don Blake, um médico aleijado; Demolidor é o homem sem medo, mas também é cego; Homem de ferro é invencível, mas sofre com problemas no coração; o Hulk é um herói, mas também é um monstro incontrolável e irracional.

                Personagem tridimensional – São personagens muito parecidos com pessoas normais, que têm uma personalidade complexa e não podem ser definidos apenas por uma ou duas características. Personagens tridimensionais têm motivações inconscientes, e estudar um pouco de psicologia ajuda a criá-los. Frank Miller, por exemplo, transformou o Demolidor em um personagem tridimensional. Ele acrescentou mais uma camada ao herói ao mostrar que, além de corajoso e cego, ele também tinha ódio do pai por este tê-lo obrigado a estudar ao invés de seguir a carreira de lutador.