Em uma das mais interessantes cenas do filme Contato, um teólogo diz que a ciência e a religião têm métodos diferentes, mas um só objetivo: a verdade.
De fato, todas as formas de conhecimento parecem buscar, à sua maneira a verdade: a religião através da revelação; a arte através da intuição; o jornalismo através da singularidade dos fatos; o conhecimento empírico através da realidade percebida pelos sentidos; a filosofia através da reflexão racional e a ciência através da metodologia.
Entretanto, perseguir a verdade parece ser como perseguir a própria sombra: quanto mais nos aproximamos dela, mais ela se afasta de nós. Isso é ainda mais verdadeiro quando se trata do conhecimento científico. O filósofo Karl Popper demonstrou que não podemos demonstrar que tal conhecimento científico é verdadeiro, ou seja, confirmá-lo. Podemos apenas corroborá-lo, em outras palavras, afirmar que ele não foi até o momento falseado.
A percepção de que a ciência não pode dar aos homens um conhecimento absoluto e infalível do mundo fez com que vários cientistas preferissem trabalhar com outros conceitos. O chileno Humberto Maturana, por exemplo, não usa o termo verdade, pois ele pressupõe a existência de uma realidade exterior ao observador, o que, segundo ele é impossível, já que toda percepção é resultado de uma seleção interna que opera no observador.
Ao olhar para o relógio, vejo as horas porque interpreto o aparelho como um marcador de horas. Mas o relógio não é nada disso. Ele só um instrumentos mecânicos composto de ponteiros que se movimentam a velocidades constantes, se é que o relógio existe e não estou sendo enganado pelos sentidos.
Para Maturana, o que faz com que alguém resolva ser cientista é a paixão pelo explicar, não a busca pela verdade.
Mas o que é explicar? Para definir esse termo, é importante, antes de mais nada, deixar claro que a explicação é algo diferente daquilo que se pretende explicar.
Uma explicação é sempre uma reformulação da experiência. Mas nem toda reformulação é explicação, apenas aquelas que são aceitas como tais. Se digo: o arroz dentro do saleiro deixa o sal mais solto por que os grãos atraem as energias das naves extraterrestres que estão sobre minha casa, essa explicação não serve, porque poucas pessoas concordariam com ela. Se, ao contrário, digo que o arroz absorve a umidade do saleiro e, além disso, o atrito das moléculas do sal com o arroz deixam o primeiro mais solto, essa explicação é válida, pois é aceita pela maioria dos cientistas.
A explicação, portanto, é uma reformulação da experiência que é aceita como tal por um ou mais grupos de pessoas.
Um mesmo fenômeno pode ser alvo de mais de uma explicação. Se uma pessoa doente se cura, um religioso pode dizer: “Ela ficou curada porque orou e teve fé”, assim como um cientista pode dizer: “Ela ficou curada porque tomou corretamente os remédios”.
A teologia, a filosofia, o empirismo, a arte, a ciência e o jornalismo são formas de explicar o mundo, mas pode haver mais. Segundo Maturana, existem tantas explicações quanto forem os critérios de aceitação das explicações.
Os cientistas, portanto, são pessoas que compartilham critérios de explicações sobre o mundo.
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