sábado, abril 05, 2025

Blueberry – A pista dos Sioux


Embora o nono álbum seja continuação de uma aventura eletrizante Blueberry, ele provavelmente ficou célebre por uma razão visual: é aqui que vemos, pela primeira vez, o traço pelo qual Giraud ficaria conhecido como Moebius.

Na história, o vilão Jethro Stellfingers consegue arranjar as coisas para que todos pensem que Blueberry é responsável pelo roubo do dinheiro da Union Pacific, o que faz com que ele seja preso. Pior: todos no local querem se vingar dele, em um linchamento. Além do alerta do roteirista Charlier a respeito das notícias falsas e da justiça com as próprias mãos, essa sequência se destaca pelo encademamento de ação, com o protagonista conseguindo resistir aos atacantes que tentam botar fogo na prisão.

Finalmente começa a surgir o traço pelo qual Moebius ficaria conhecido. 


Mas é a página 8 que chama atenção do leitor atento. Nela um senhor idoso recebe uma mensagem pelo telégrafo. As suas feições quebram com o estilo que Giraud usava até então na série, usando um traço mais limpo e solto.

Mas o destaque vem na página 41, em que o desenhista abandona o esquema de divisão da página em dois grandes conjuntos de quadros, deixando a diagramação mais orgânica. Há inclusive uma imagem de Blueberry que se sobrepõe aos outros quadros, quebrando com o esquema rígido de diagramação usado até então. A partir daí temos quadros irregulares, quadros só com os personagens em fundo branco, sem delimitação de requadro. É nítido que o desenhista está experimentando e buscando cada vez um estilo próprio, distinto de Jijé, que havia sido seu mestre e mentor e que ele imitara nas primeiras histórias.

Blueberry na prisão tenta se defender dos que querem linchá-lo. 


No final, embora Blueberry tenta costurado um acordo com os indígenas, a chegada de um general fanático que pretende atacar as tribos enquanto os guerreiros caçam, matando mulheres, crianças e idosos, pode colocar tudo a perder e fazer o oeste se tornar um mar de sangue. O texto final diz: “A guerra voltará a manchar o oeste de sangue? Blueberry conseguirá evitá-la? Você ficará sabendo lendo... General Cabeça-Amarela”.

O desenhista começa a inovar também na diagramação. 


Uma curiosidade sobre essa história é que quando ela foi publicada pela primeira vez no Brasil, os editores da Abril sabiam que a revista seria cancelada e quiseram dar aos leitores a ideia de que a trama terminava ali. Assim, o texto final da história foi alterado para: “Confiantes na palavra dos caras-pálidas, e de nariz-quebrado, os peles-vermelhas podem, enfim, retomar suas atividades normais. O oeste está em paz!”.  

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