Embora o nono álbum seja continuação de uma aventura eletrizante Blueberry, ele provavelmente ficou célebre por uma razão visual: é aqui que vemos, pela primeira vez, o traço pelo qual Giraud ficaria conhecido como Moebius.
Na história, o vilão Jethro Stellfingers
consegue arranjar as coisas para que todos pensem que Blueberry é responsável
pelo roubo do dinheiro da Union Pacific, o que faz com que ele seja preso.
Pior: todos no local querem se vingar dele, em um linchamento. Além do alerta
do roteirista Charlier a respeito das notícias falsas e da justiça com as
próprias mãos, essa sequência se destaca pelo encademamento de ação, com o
protagonista conseguindo resistir aos atacantes que tentam botar fogo na
prisão.
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Finalmente começa a surgir o traço pelo qual Moebius ficaria conhecido. |
Mas é a página 8 que chama atenção do leitor
atento. Nela um senhor idoso recebe uma mensagem pelo telégrafo. As suas
feições quebram com o estilo que Giraud usava até então na série, usando um
traço mais limpo e solto.
Mas o destaque vem na página 41, em que o
desenhista abandona o esquema de divisão da página em dois grandes conjuntos de
quadros, deixando a diagramação mais orgânica. Há inclusive uma imagem de
Blueberry que se sobrepõe aos outros quadros, quebrando com o esquema rígido de
diagramação usado até então. A partir daí temos quadros irregulares, quadros só
com os personagens em fundo branco, sem delimitação de requadro. É nítido que o
desenhista está experimentando e buscando cada vez um estilo próprio, distinto
de Jijé, que havia sido seu mestre e mentor e que ele imitara nas primeiras
histórias.
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Blueberry na prisão tenta se defender dos que querem linchá-lo. |
No final, embora Blueberry tenta costurado um
acordo com os indígenas, a chegada de um general fanático que pretende atacar
as tribos enquanto os guerreiros caçam, matando mulheres, crianças e idosos,
pode colocar tudo a perder e fazer o oeste se tornar um mar de sangue. O texto
final diz: “A guerra voltará a manchar o oeste de sangue? Blueberry conseguirá
evitá-la? Você ficará sabendo lendo... General Cabeça-Amarela”.
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O desenhista começa a inovar também na diagramação. |
Uma curiosidade sobre essa história é que
quando ela foi publicada pela primeira vez no Brasil, os editores da Abril
sabiam que a revista seria cancelada e quiseram dar aos leitores a ideia de que
a trama terminava ali. Assim, o texto final da história foi alterado para:
“Confiantes na palavra dos caras-pálidas, e de nariz-quebrado, os
peles-vermelhas podem, enfim, retomar suas atividades normais. O oeste está em
paz!”.
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