Umberto Eco não só foi um dos mais importantes pensadores do
século XX como também um notório fã de quadrinhos. Assim, não é de se admirar
que ele se tornasse também um personagem de HQs. Isso aconteceu graças à
amizade do escritor com o roteirista Tiziano Sclavi, criador de Dylan Dog.
Na história, publicada no Brasil no número 7 do título (editora
Mythos), um observatório recebe uma mensagem extraterrestre. Para decifrá-la é
chamado o linguista Humbert Coe (o nome do personagem é um anagrama do nome
real do escritor). Ele consegue decifrar uma parte da mensagem, que parece não
fazer sentido algum. Quem mata a charada é a faxineira do local, uma imigrante
africana: é o nome de uma cidade em Gales.
A história pula para meses depois, quando Dylan é chamado à cidade
para investigar o desaparecimento de uma menina (a filha da faxineira).
A trama toda gira em torno da questão da língua universal e dos
problemas de linguagem, como a compreensão equivocada do que é dito, algo
representado pela torre de Babel – que, aliás, aparece na capa do volume.
A chegada de Dylan e Groucho brinca exatamente com o fenômeno do
ruído na comunicação. A mulher que eles buscam tem o sobrenome de Jones, mas
várias outras mulheres locais têm o mesmo sobrenome, o que gera uma comédia de
erros com maridos querendo saber o que querem com suas mulheres (e Dylan
achando que se trata da mesma mulher). Além disso, os dois forasteiros são
confundidos com agentes oficiais ingleses, o que gera ainda mais problemas.
Cômico, lírico e filosófico, o volume traz todas as
características das melhores histórias de Dylan Dog. E traz uma esperança,
refletida nas falas de Umberto Eco: a de que um dia a humanidade possa se
comunicar em harmonia. Talvez nesse dia estejamos preparados para nos
comunicarmos com inteligências extraterrestres.
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