sexta-feira, setembro 19, 2025

Mestre Giles d´Aldeia, de J.R.R. Tolkien

 


Embora seja mais conhecido pela trilogia O senhor dos anéis, Tolkien tem também uma ampla produção de livros de fantasia com histórias fechadas. Exemplo disso é o volume Mestre Giles d´Aldeia, lançado no Brasil em uma belíssima edição da Harperkids.

O livro conta a história de um pacato fazendeiro que sem querer acaba se tornando um herói ao afugentar um gigante de suas terras. A narrativa une fantasia com humor, como se pode ver na descrição do cachorro do protagonista: “O nome dele era Ganido. Os cães deviam contentar-se com nomes curtos da língua nacional: o latim dos livros era reservado para seus superiores. Ganido não sabia falar nem mesmo um latim grosseiro, mas sabia usar a língua dos plebeus tanto para ameaçar e contar vantagens como para bajular”.

A sequência do gigante é hilária. Giles enche seu bacamarte de pedras e entulhos, mas quando vê o gigante fica tão assustado que, sem querer, dispara a arma. Um prego vai parar no nariz do monstro, que, achando que se trata de insetos gigantes, vai embora, não sem antes levar algumas ovelhas para o jantar.

O episódio tem duas consequências. Primeiro transforma Giles em um herói local a ponto dele receber do rei uma velha espada de presente. Segundo, o gigante passa a espalhar a notícia de aquela região é rica de vacas e ovelhas que podem ser comidos à vontade, o que leva um dragão a se aventura pelo local.

Como herói local, Giles é obrigado a enfrentar a fera. O primeiro diálogo entre os dois é de uma simplicidade e, ao mesmo tempo, de um humor único:

- Desculpe a pergunta, mas você está procurando por mim? – indaga o dragão.

Lá na frente, no segundo encontro entre o fazendeiro e o dragão, será travado o mesmo diálogo, mas com sinal invertido, de modo que o significado se torna oposto, o que mostra que Tolkien tinha pleno controle da obra, planejando muito bem até mesmo os menores falas dos personagens.

No final, Mestre Giles d´Adeia se torna uma parábola sobre como os poderosos usam os pobres a seu próprio benefício. É uma sutil, mas ferina crítica social.

Não bastassem os méritos do próprio livro, a edição da Harperkids é uma verdadeira preciosidade. Em formato 12 x 16 cm, capa dura, com fitilho, a obra também traz as belíssimas ilustrações de Pauline Baynes, que mimetiza com perfeição o estilo das iluminuras medievais. O único defeito é que, ao invés de colocar as ilustrações no meio do livro, elas foram colocadas no final.

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