sexta-feira, junho 29, 2007

Natal


Mariano não gostava de natal. Bastava ver as pessoas comprando presentes, providenciando a ceia, para ele estourar:
- Natal é mercantilismo! Coisa de babaca!
Como era quase impossível se ver livre do clima natalino, ele inventava estratégias para pelo menos fugir da pieguice dos abraços e troca de presentes. Inventava de tomar banho dez minutos antes da meia-noite, ou lembrava de consertar um cano.
Um dia Mariano arranjou uma colocação em uma empresa grande. Foi muito bem recomendado e sabia que tinha chances de crescer lá dentro. Quem sabe, podia chegar até a vice-presidente. Não bastasse isso, o salário era ótimo e a turma divertida. O emprego dos sonhos.
Só tinha um problema: o chefe adorava natal. Seu maior prazer era reunir todos os filhos dos funcionários, distribuir presentes, dar bolo, balas, aquela festa. E todos deveriam participar. Quando soube disso, Mariano tremeu, mas disse consigo: “Tudo por uma boa causa!” e respirou aliviado. Por pouco tempo. Naquele ano especificamente o Pedrão, que sempre fazia o papel de Papai Noel, estava doente, e o chefe pediu que os funcionários indicassem alguém para substitui-lo.
O pessoal da sessão não perdeu a chance: indicou o Mariano. Como ele era meio gordinho e simpático, o chefe olhou para ele e viu mesmo um papai Noel:
- Nunca tinha reparado. Você com uma barba postiça e uma roupa vermelha fica o próprio!
E agora? Mariano mal conseguiu dormir aquela noite. Virava de um lado para o outro, indeciso entre pedir demissão ou se matar. Por fim, decidiu nem por um nem por outro, mas por ser papai Noel.
Foi lá e fez tudo era necessário. Distribui balas, presentes e até colocou crianças no colo para tirar fotos.
No dia seguinte, recriminou os colegas pela sacanagem e afirmou que aquele tinha sido o pior dia de sua vida. Passou o resto da semana com cara de pit-bull, para deixar claro seu ponto de vista. E redobrou o discurso anti-natal.
Mas o que ninguém soube é que, a partir daquele ano, ele não perdia uma oportunidade de se vestir de papi Noel. Até se filiou em associações beneficientes longe de sua casa e do emprego, só para poder bancar o bom velhinho...

Sem comentários: