sexta-feira, junho 29, 2007


Às vezes é melhor você não ler certas obras, certos autores. Ray Bradbury é assim. Eu leio ele e dá vontade de desistir de escrever, tão bom é o texto dele. Bradbury fazia uma espécie de literatura que parecia poesia. Cada palavra, cada frase, tinha a cadência certa e provocava uma imagem mental. Vejam a cadência desse trecho do conto A bruxa de abril, do livro Os frutos dourados do sol:

“Pelo ar, por sobre os vales, sob as estrelas, acima de um rio, um lago, uma estrada, Cecy voava. Invisível como ventos novos de primavera, fresta como o aroma de cravos que se desprende dos campos no crepúsculo, ela voava”.

Ou a sinestesia desse trecho do conto O pedrestre, no mesmo livro: “Podia-se sentir as luzes geladas piscando, todos os galhos cobertos de uma neve invisível”.

Quando escrevia quadrinhos com mais freqüência, na década de 1990, eu imitava muito esse estilo ao escrever as legendas de minhas HQs e ess estilo era até copiado, mas a verdade é que nunca cheguei nem perto do nível de textos como esse. Bradbury é como nossa sombra: quanto mais corremos atrás dela, mais ela se afasta de nós.

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