
Estou lendo os Novos Deuses, de Jack Kirby, lançado em três edições pela Opera Graphica. No início da década de 1970, Kirby saiu da Marvel, na qual havia criado a base visual dos heróis da editora, e foi para a DC na qualidade de astro. A editora lhe deu liberdade total e Kirby resolveu criar toda uma mitologia. A história começa com a morte dos velhos deuses (como se o autor estivesse matando Thor, com o qual trabalhou durante anos para a Marvel). Novos Deuses apresenta Darkside, Orion, Nova Gênese, muitos personagens que depois seriam a base de mega-sagas na DC.
Em Novos Deuses, vemos Kirby em estado puro, sem a interferência de escritores ou editores. É uma explosão de ação e imaginação, angulações estranhas... a serviço de uma mitologia poderosa, que, embora não tenha feito muito sucesso na época, iria influenciar artistas por muitos e muitos anos.
Mas, embora tudo seja muito bom, falta algo: humanidade. Os poucos personagens humanos que aparecem são apenas escadas para os Novos Deuses, e mesmo Orion parece distante e pouco humano. O melhor personagem é justamente o menos humano de todos: Darkside.
É a falta que faz um Stan Lee. Ele equilibrava a imaginação desenfreada do Kirby, contrapondo as tramas estelares com dramas humanos. O Surfista Prateado, por exemplo, apesar de alienígena, é muito humano.
Uma curiosidade: Kirby evidentemente se identifica com o caladão e briguento Orion (sua primeira fala é: Eu ouvi a palavra, e a palavra é batalha!), mas aparece o brincalhão Lightray, que parece ter uma personalidade parecida com a de Stan Lee. Inconscientemente, Kirby estaria com saudades do seu velho amigo da Marvel?
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