quarta-feira, abril 02, 2008

A volta da Mad


Como se diz, vaso ruim não quebra. E a revista Mad, a mais anárquica revista de humor já lançada no Brasil está de volta, depois de ter sido cancela três vezes. Agora a publicação sai pela poderosa Panini, o que pode garantir seu sucesso junto a novos leitores.
A Mad surgiu na década de 1950, criada pelo mestre Harvey Kurtzman a pedido de Bill Gaines, o dono da E.C., editora que fazia grande sucesso com revistas de terror e ficção-científica. Inicialmente o seu foco era justamente aquilo Kurtzman mais conhecia: os próprios quadrinhos. Mas logo a revista começaria a ridicularizar todos os aspectos da vida norte-americana. Era tão irreverente que não conseguia anunciantes, vivendo exclusivamente das vendas em bancas.
Os quadrinhos da E.C. arregimentaram a fúria dos setores mais conservadores da sociedade, que fizeram uma cruzada contra os quadrinhos. Para sobreviver, as outras editoras montaram um comics code que praticamente proibia as revistas da E.C. A única publicação que sobreviveu foi a Mad. Adaptada para o formato magazine e em preto e branco, não era considerada um gibi e, portanto, escapava das regras do código.
Nesse período, Kurtzman se desentendeu com Gaines e a revista passou a ser editada por All Feldestein. Este não tinha um humor tão corrosivo quanto o de Kurtzman, mas introduziu mudanças que agradaram, como colocar o mascote da revista, o idiota Alfred E. Newman, em todas as capas. Esse mascote ficou tão famoso que foi usado, posteriormente, em protestos contra o presidente George Bush (por causa da semelhança física).
A revista não só sobreviveu, como se tornou a mais vendida dos EUA durante décadas. Por ela passaram grandes nomes dos quadrinhos, como Wally Wood, Jack Davis, Bill Elder, Sérgio Aragonés, Don Martin e muitos outros.
No Brasil a revista surgiu em 1974, duas décadas depois de ter sido lançada. A razão do atraso é que a maioria das editoras achava que seria impossível traduzir as piadas. Quem acreditou na proposta foi lotário Vechhi, da editora Vecchi. Para cuidar da adaptação, ele encarregou o jovem Otacílio d´Assunção Barros, que mais tarde ficaria conhecido pelos leitores com Ota. Dizem as lendas que entrevista de emprego do novo editor poderia ser mais uma piada da Mad. Lotário perguntou ao Ota quais eram os nomes dos sobrinhos do Pato Donald e do cachorro do Fantasma. Ao final, ele se levantou, apertou sua mão e disse: ¨Sr. Otacílio, o senhor foi o melhor candidato que apareceu aqui até agora. O emprego é seu!¨. Ota saiu de lá achando seu novo patrão um completo imbecil.
Apesar de Lotário e Ota estarem certos do sucesso da Mad, essa opinião não era compartilhada por mais ninguém na editora, de forma que foi um espanto quando a primeira edição, de 40 mil exemplares vendeu rapidamente, apenas no Rio e São Paulo. Foi necessário imprimir às pressas mais 30 mil exemplares. A revista vendeu muito bem (gerando várias imitações), até a falência da Vecchi, sendo publicada posteriormente pela Record e, mais recentemente, pela Mithos.
Nos últimos anos, a revista não lembrava os tempos de grande sucesso das décadas de 1980 e 1990, quando virou referência, satirizando novelas, filmes e acontecimentos políticos. Cara e mal impressa, a Mad ficava perdida nas bancas e não chamava a atenção da nova geração de leitores.
A edição da Panini obviamente pretende reviver o sucesso da publicação. Para isso eles mexerem no que estava ruim e deixaram o que sempre fez sucesso. O Ota, por exemplo, continua na revista. Nesses mais de 30 anos ele virou uma verdadeira referência, sendo o editor que mais tempo cuidou da revista no mundo. Mas outros detalhes mudaram. A impressão, por exemplo, deu um salto. Além disso, agora a revista vem completamente colorida. Na versão da Mithos, histórias coloridas eram impressas em preto e branco, o que tornava a leitura desinteressante. A editora ganhou também um segundo editor, Raphael Fernandes, responsável pela parte internacional (¨eles são incompetentes o bastante para cuidar da parte deles assim como sou da minha¨, afirma Ota, no editorial do primeiro número).
O primeiro número tem coisa clássicas, como as cartas esculhambando a revista (muitos leitores escreviam para a Mad em folhas de papel higiênico), sátiras de filmes (Harry Potter, Meu nome não é Johnny), o relatório Ota, as histórias mudas de Sérgio Aragonés... tudo que tinha nas versões anteriores, mas a qualidade de impressão e a cor fazem uma diferença enorme. Para não dizer que está perfeita, há vários erros de revisão e o papel da capa ainda está muito fino. Mesmo assim, espera-se que essa nova versão consiga conquistar os jovens leitores. Aqui em casa funcionou. A garotada devorou a revista.

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