segunda-feira, agosto 03, 2009

História dos quadrinhos

O mestre do Kung fu

Na década de 1970, a grande moda eram as artes marciais. No cinema, os filmes de Bruce Lee eram sucesso de bilheteria. Na televisão, a série Kung Fu, com David Carradine (o “pequeno gafanhoto”) ganhava cada vez mais fãs. Não ia demorar muito, portanto, para que essa mania chegasse aos quadrinhos.
A Marvel lançou o super-herói Punhos de Ferro, enquanto a DC lançou O Dragão do Kung Fu, sem falar nas pequenas editoras, que também publicaram revistas para aproveitar a febre. Mas o personagem mais famoso e mais emblemático dessa onda seria Mestre do Kung Fu, criado por Steve Englehart (roteiro) e Jim Starlin (desenhos).
Os dois procuraram o editor-chefe da Marvel, Roy Thomas, com a proposta de adaptar para os quadrinhos o seriado de TV. Thomas lembrou que a série pertencia à Warner Bros, dona da DC. Então, ao oferecer a proposta para a Warner eles não só receberiam um não, como ainda dariam uma ótima idéia à DC Comics. Mas a editora do Super-homem já estava pensando em adaptar o seriado. Roberto Guedes, no livro A era de bronze dos super-heróis conta que Denny O´Neil teria alertado o Publisher da DC, Carmine Infantino,sobre a possibilidade da Marvel lançar esse material. “Não se preocupe. Se a Marvel lançar o Kung Fu, nós fazemos o Fu Manchu”. Fu Manchu era um vilão clássico dos pulp fiction (revistas baratas de contos, muito populares até a década de 1930). Roy Thomas ficou sabendo disso e resolveu comprar os direitos do personagem, transformando Fu Manchu no pai do herói da série.
Assim, a revista em quadrinhos contava a história de Shang-Chi, um jovem mestre nas artes marciais, criado como uma arma viva por seu pai, Fu Manchu, que pretendia usá-lo para dominar o mundo. Ao descobrir as intenções de seu pai, Shang-Chi foge e se alia à agência britânica de espionagem, a MI-6, onde conhece aquela que seria sua namorada, Leiko Wu.
A história estreou na revista Special Marvel Edition, 15 que passou a se chamar Master of Kung Fu a partir do número 17 por conta da popularidade do personagem.
Embora Shang-chi tenha sido criado por Steve Englehart, foi Dough Moench que se estabeleceu no título, escrevendo as mais importantes histórias. Com a entrada de Paul Gulacy, estava formada a dupla favorita dos fãs.
Gulacy tinha um traço fotográfico que espantou os fãs. Para tornar o trabalho mais realista, ele conseguiu uma cópia do filme Operação Dragão, projetou numa tela e fotografou as cenas congeladas. Assim, o personagem ficava com a cara de Bruce Lee.
Gulacy desenhou a revista até o número 50, quando foi substituído por Jim Craig. Como este não conseguia cumprir os prazos, foi substituído por Mike Zeck.
Mike Zeck costumava errar muito em anatomia e não tinha o traço fotográfico de Paul Gulacy, mas trouxe outras qualidades para a série. Seu desenho era fluido e elegante, e combinava muito bem com a nova fase do personagem, mais introspectiva. Depois das sagas centradas nas aventuras de espionagem, o gibi começou adentrar na filosofia zen budista e a explorar mais as relações entre os personagens.
Esse foco ousado para um gibi de luta fez com que Mestre do Kung-Fu se destacasse de todas as revistas do gênero e durasse até o número 125, superando em muito o modismo das artes marciais. O último número, seguindo a linha introspectiva introduzida por Moench, mostrava o personagem se aposentando para se dedicar à filosofia oriental.
Sem dúvida, a revista foi um dos grandes momentos da Era de Bronze dos quadrinhos americanos.

3 comentários:

Charles Macedo disse...

Essa era uma das minhas favoritas Prof. Ivan, saia da Escola Barão e já passava na Bando do Dorimar ou numa banca que existia atrás do Mercado de Peixes atrás da próxima edição.
Foi muito legal reelembrar.
Obrigado.

JJ Marreiro disse...

As edições de Heróis da TV e Almanaque do Cap. América e Superaventuras Marvel popularizaram o Mestre do Kung Fu aqui no Brasil, mesmo tendo algo publicado antes pela Bloch não havia o senso de continuidade criado pela equipe da Abril.

Foi uma das melhores fases dos formatinhos. Se por um lado cortavam páginas e diminuiam diálogos, por outro forneciam revistas baratas e muito bem distribuídas.

O Paul Gulacy foi um dos primeiros na Marvel a ousar na anatomia e detalhismo (comparado aos artistas da época). Já o Mike Zeck evoluiu muito ao longo do seu trabalho com o Mestre do Kung Fu, ficando com o traço mais maduro e mais fluido.

É uma pena que ninguém tenha conseguido trazer o Shang Shi de volta de maneira convincente.

"Senhor isto é um museu e o senhor está sem sapatos" Interpela um guarda que ouve de Shang-Shi a seguinte resposta: "Já não é suficiente que haja tanto concreto nos separando da terra?"

Roberto Guedes disse...

Outra ótima matéria, Gian! E obrigado pela citação ao "Era de Bronze". Forte abraço!