Por Renata Lins*
…. cara… dá uma preguiça… mas não dá pra não comentar. O Pedro sabia, quando me mandou o link. Então lá vai. Esse título bombástico não é meu não: é daqui, de um textinho de Ricardo Setti.
Que acha que pode dizer, sem mais nem menos, que o Senador Randolfe – que é jovem e de um partido pequeno – “tem minhoca na cabeça” e que seu “projeto”(sic) – é uma emenda à Lei de Diretrizes Orçamentárias, Ricardo Setti – é “estapafúrdio, próximo do ridículo”.
Seria bom que as pessoas soubessem do que estão falando antes de falar. Ou, como dizia Mlle Préfumo, minha professora da 4a série na École des Eaux-Vives, “Il faut tourner sept fois la langue dans sa bouche avant de parler”. (É preciso girar a língua sete vezes na boca antes de falar, na tradução literal.).
Eu nem conheço o Senador Randolfe. Mas superávit primário eu conheço. Escrevi para o Fórum Brasil do Orçamento, junto com Rodrigo Ávila, um caderno intitulado Superávit Primário (a Flavia Filipini trabalhou numa primeira versão e está devidamente listada como autora, mas não a conheço), cujo subtítulo (vejam lá) dá uma idéia do que pensamos sobre o tema. E não é bom.
Rodrigo e eu somos economistas. Heterodoxos, mas economistas. Não sei da formação completa do Rodrigo, mas sei que ele tem mestrado. Eu também, assim como créditos do doutorado completos (os gringos chamam isso de Doctor ABD = All But Dissertation. Risos.) Ao que me consta, nenhum dos meus professores jamais me considerou “estapafúrdia” ou “ridícula”. Irritante, às vezes, possivelmente. Inconveniente, outras. Mas sempre me trataram com consideração e respeito, e até hoje considero o Instituto de Economia da UFRJ um pouco minha casa. Lá sei que posso chegar e serei bem recebida.
A praga do pensamento único acrítico faz com que Ricardo Setti ache que pode ridicularizar o jovem Senador Randolfe em público – sendo que, na verdade, ele é que se ridiculariza aos olhos de quase qualquer economista (ou não-economista) que já tenha, de longe, ouvido falar em Keynes, Kalecki, e, no Brasil, em Conceição Tavares, Mário Possas, Fernando Cardim. Economistas reconhecidos, respeitados, consagrados.
Ricardo Setti não sabe do que está falando: mas, intoxicado pelos eflúvios diários do pensamento único midiático e por sua propaganda do superávit primário como panacéia, acha que pode desqualificar o interlocutor de uma penada. De uma teclada. De um ou dois xingamentos irresponsáveis.
Não, Sr. Setti, não é estapafúrdio querer acabar com a política de metas de superávit primário. E uma pequena pesquisa básica iria mostrar que essa política não existe em nenhum dos países que o senhor provavelmente respeita (esses aí, do primeiro mundo, de gente que sabe das coisas e fala línguas). Se quiser, dê uma olhada lá na nossa cartilhinha, que está precisando ser atualizada (esta semana mesmo falei com Rodrigo a respeito – ficamos de ver com o pessoal do FBO possibilidades de financiamento para uma nova edição). Explica pra leigos, esse é o objetivo dela. E por isso não vou refazer o fio lógico aqui. Esta notinha tem como propósito somente chamar a atenção para o quão deletério é o papel da mídia desinformante nos dias de hoje, que grita palavras de ordem criadas sabe-se lá por quem ou aonde (ou será que se sabe?) e se acha com direito de desqualificar um Senador da República que, talvez por ser mais sério do que a média, notou que essa política, que privilegia o pagamento de dívidas incertas em detrimento de gastos essenciais, nos engessa e impede a realização dos gastos necessários em educação, saúde, segurança.
O curioso é que, abrindo o blog do Senador Randolfe, deparo-me com a notícia: “CCJ do Senado aprova o fim do superávit primário.” Tragam os sais para o Ricardo Setti. Ele vai precisar.
*Renata Lins é economista (surrupiado do blog da Chopinho feminino)
…. cara… dá uma preguiça… mas não dá pra não comentar. O Pedro sabia, quando me mandou o link. Então lá vai. Esse título bombástico não é meu não: é daqui, de um textinho de Ricardo Setti.
Que acha que pode dizer, sem mais nem menos, que o Senador Randolfe – que é jovem e de um partido pequeno – “tem minhoca na cabeça” e que seu “projeto”(sic) – é uma emenda à Lei de Diretrizes Orçamentárias, Ricardo Setti – é “estapafúrdio, próximo do ridículo”.
Seria bom que as pessoas soubessem do que estão falando antes de falar. Ou, como dizia Mlle Préfumo, minha professora da 4a série na École des Eaux-Vives, “Il faut tourner sept fois la langue dans sa bouche avant de parler”. (É preciso girar a língua sete vezes na boca antes de falar, na tradução literal.).
Eu nem conheço o Senador Randolfe. Mas superávit primário eu conheço. Escrevi para o Fórum Brasil do Orçamento, junto com Rodrigo Ávila, um caderno intitulado Superávit Primário (a Flavia Filipini trabalhou numa primeira versão e está devidamente listada como autora, mas não a conheço), cujo subtítulo (vejam lá) dá uma idéia do que pensamos sobre o tema. E não é bom.
Rodrigo e eu somos economistas. Heterodoxos, mas economistas. Não sei da formação completa do Rodrigo, mas sei que ele tem mestrado. Eu também, assim como créditos do doutorado completos (os gringos chamam isso de Doctor ABD = All But Dissertation. Risos.) Ao que me consta, nenhum dos meus professores jamais me considerou “estapafúrdia” ou “ridícula”. Irritante, às vezes, possivelmente. Inconveniente, outras. Mas sempre me trataram com consideração e respeito, e até hoje considero o Instituto de Economia da UFRJ um pouco minha casa. Lá sei que posso chegar e serei bem recebida.
A praga do pensamento único acrítico faz com que Ricardo Setti ache que pode ridicularizar o jovem Senador Randolfe em público – sendo que, na verdade, ele é que se ridiculariza aos olhos de quase qualquer economista (ou não-economista) que já tenha, de longe, ouvido falar em Keynes, Kalecki, e, no Brasil, em Conceição Tavares, Mário Possas, Fernando Cardim. Economistas reconhecidos, respeitados, consagrados.
Ricardo Setti não sabe do que está falando: mas, intoxicado pelos eflúvios diários do pensamento único midiático e por sua propaganda do superávit primário como panacéia, acha que pode desqualificar o interlocutor de uma penada. De uma teclada. De um ou dois xingamentos irresponsáveis.
Não, Sr. Setti, não é estapafúrdio querer acabar com a política de metas de superávit primário. E uma pequena pesquisa básica iria mostrar que essa política não existe em nenhum dos países que o senhor provavelmente respeita (esses aí, do primeiro mundo, de gente que sabe das coisas e fala línguas). Se quiser, dê uma olhada lá na nossa cartilhinha, que está precisando ser atualizada (esta semana mesmo falei com Rodrigo a respeito – ficamos de ver com o pessoal do FBO possibilidades de financiamento para uma nova edição). Explica pra leigos, esse é o objetivo dela. E por isso não vou refazer o fio lógico aqui. Esta notinha tem como propósito somente chamar a atenção para o quão deletério é o papel da mídia desinformante nos dias de hoje, que grita palavras de ordem criadas sabe-se lá por quem ou aonde (ou será que se sabe?) e se acha com direito de desqualificar um Senador da República que, talvez por ser mais sério do que a média, notou que essa política, que privilegia o pagamento de dívidas incertas em detrimento de gastos essenciais, nos engessa e impede a realização dos gastos necessários em educação, saúde, segurança.
O curioso é que, abrindo o blog do Senador Randolfe, deparo-me com a notícia: “CCJ do Senado aprova o fim do superávit primário.” Tragam os sais para o Ricardo Setti. Ele vai precisar.
*Renata Lins é economista (surrupiado do blog da Chopinho feminino)
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