Existem três pilares básicos de qualquer democracia: o direito à manifestação, a liberdade de imprensa e a garantia de que ninguém será preso sem que tenha cometido um crime previsto no Código Penal.
Todos esses aspectos foram ignorados ontem pela polícia militar do estado de São Paulo, na repressão às manifestações contra o aumento da passagem.
Antes mesmo antes dos protestos, dezenas de manifestantes foram presos por porte de... vinagre! O vinagre é usado para atenuar os efeitos das bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela polícia. Não é uma substância ilegal. Todo mundo usa na salada, mas quem estivesse com vinagre ontem em São Paulo era preso. Uma dessas pessoas foi o repórter
Piero Locatelli, da revista Época. Mesmo depois de identificar como jornalistas, os policiais efetuaram a prisão.
Aliás, parece ter havido uma verdadeira caça a jornalistas ontem na Paulista. Sete jornalitas da Folha de São Paulo foram atingidos por balas de borracha. A jornalista
Giuliana Vallone foi atingida no olho por uma bala de borracha enquanto estava num estacionamento, longe de manifestações. Uma viatura da polícia passou pelo local e um PM atirou. Um outro jornalista, este da
agência Futura Press, também foi atingido no olho e corre o risco de ficar cego.
Um vídeo divulgado no Youtube mostra um grupo de jornalistas sendo ameaçado por policiais. Quando eles se identificam como jornalistas, os policiais começam a atirar.
Algumas pessoas estão dizendo que os jornalistas foram confundidos com vândalos. Impossível, a não ser que os jornalistas estivessem quebrando algo, o que acho muito difícil. Além disso, jornalistas geralmente andam em grupos nessas ocasiões, como forma de proteção e a maioria usa crachás. A identidade de jornalita, emitida pela Federação Nacional de Jornalistas, é diferente e tem a palavra Jornalista em destaque. Não há como confundir ou dizer que os policiais não sabiam que estavam prendendo um jornalista. Ou dizer que eles atiraram pensando que eram vândalos.
Ao que parece, havia uma tentativa de impedir qualquer registro da violência policial. O alvo, pelo jeito, era qualquer um que estivesse com uma câmera.
E, pelos ataques aos jornalista, dimensiona-se os ataques às outras pessoas. Uma senhora, que não participava da manifestação, levou um tiro ao sair da igreja. Um casal de namorados foi agredido em um bar, depois da manifestação, porque o policial achava que eles poderiam ter feito parte dos protestos. Caídos no chão, continuaram levando chutes.
O direito à manifestação é sagrado. O que a polícia deve evitar é atos de violência ou depredações. Mas, segundo informações de Élio Gaspari, a polícia começou a atacar os manifestantes quando a passeata ainda era pacífica e continuou atacando pessoas mesmo depois do fim das manifestações.
Pior é o comando da polícia dizer que não houve excessos. Ou seja: os policiais seguiram estritamente as ordens.
Aceitar a ação dos policiais é aceitar um atentado contra a democracia.
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