José Aguiar
Esta coluna foi escrita numa semana singular. Milhares de pessoas saíram pelas ruas das principais capitais brasileiras numa manifestação coletiva como há muito tempo não se via. Tudo começou com um protesto sobre o aumento de tarifas de ônibus, mas a ele se somaram outros e a multidão se avolumou e tomou dimensões inesperadas. Em meio aos manifestantes, que, no fim, somadas todas as reivindicações, pediam por um país melhor, muita gente escondia o rosto por trás de uma certa máscara. Face que nos últimos anos se tornou símbolo de resistência popular contra o sistema estabelecido. Mas na verdade, nem todo mundo sabe a origem desse sorriso estático e olhar perturbador. Possivelmente o ato de vestir essa máscara remete à maioria das pessoas a cena final do filme V de Vingança, onde uma multidão confronta as forças estabelecidas trajando o mesmo rosto e, simbolicamente, os mesmo ideais. O filme de 2005, dirigido por James Mctiegue, mesmo não sendo um sucesso comercial, popularizou no mundo todo a imagem do personagem “V”, um mascarado que, numa Inglaterra de um futuro próximo, combate o fascismo que controla a todos. O filme aos poucos se tornou cult, mesmo diluindo muito das propostas da obra em que se inspira: a mini série em quadrinhos V de Vingança (V for Vendetta) da dupla britânica Alan Moore e David Lloyd. Publicada originalmente nos anos 1980, ela fazia alegoria com a política linha dura da primeira-ministra inglesa Margareth Thatcher. Um mundo que na HQ remete ao clássico livro 1984 de George Orwell, onde todos são controlados e vigiados pelo “Grande Irmão”. A HQ foi transposta às telas numa época diferente, mas onde o “Big Brother” seja ele o famigerado programa televisivo, ou as redes sociais, realmente regem as vidas de muitos de nós.
O rosto e atitude de “V” são inspirados no soldado inglês Guy Fawkes, que em 05 de novembro de 1605, foi preso, torturado e morto por tentar explodir o Parlamento inglês. Evento que é lembrado anualmente na mesma data, na chamada de “Noite das Fogueiras” onde se queimam bonecos de Fawkes. Mas mesmo assim, a ideia revolucionária ainda ecoou pelo tempo, inspirando dois jovens quadrinistas a realizar uma das obras mais relevantes da cultura pop atual. Leia mais
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