Em meados da década de 1990 os quadrinhos americanos estavam
dominados por revistas sem roteiro, desenhos sem preocupação anatômica, cores
digitais e personagens raivosos, como Wolverine e Justiceiro. Foi quando uma
minissérie surgiu, criada por dois desconhecidos. Marvels, de Kurt Buziek
(roteiro) e Alex Ross (desenho) era em tudo o oposto disso, mas mesmo assim fez
enorme sucesso, provocando uma guinada no mercado dos comics.
O primeiro embrião da minissérie surgiu quando Alex Ross
apresentou à Buziek a ideia de fazer uma minissérie pintada com histórias
fechadas dos principais heróis da Casa da Ideias. Ross não havia imaginado nada
em comum que ligasse as dez histórias.
Buziek trouxe uma inovação para a proposta: mostrar o
impacto que os super-heróis teriam sobre a vida de pessoas reais. Quando dois
super-seres lutavam nos céus de Nova York, o que acontecia com as pessoas lá
embaixo? Com os pedestres, taxistas e motoristas e ônibus? Como suas vidas
seriam afetadas? Isso se deve ao fato de Buziek ter começado a ler quadrinhos
já adolescente, o que o levava pensar em coisas que não eram mostradas nos gibis,
tais como imaginar se as garotas tinham em seus quartos pôsteres de Johnny
Storm vestindo nada mais que calças jeans.
Os dois artistas apresentaram a proposta para vários
editores da Marvel, mas embora a maioria tivesse adorado a arte de Ross,
ninguém se interessou em publicar. Até que o projeto caiu na mesa do
editor-chefe da editora, Tom DeFalco, que fez uma sugestão que mudaria os rumos
da série: que tal, ao invés de contar histórias inéditas dos heróis a partir da
perspectiva de pessoas normais, a história focasse em recontar os principais
eventos dos quadrinhos Marvel, mostrando-o sob essa perspectiva inovadora?
O diferencial da série já aparecia logo nas primeiras
páginas, na sequencia que mostrava o embate entre o Príncipe Submarino e o
Tocha Humana original. A arte maravilhosa de Ross mostrava os dois através de
um plano inferior, como e alguém os estivesse vendo de baixo para cima e o texto
de Buziek afirmava: “Deve ter sido como ler sobre um balé aéreo, maravilhoso e
emocionante. E talvez fosse. Mas não para nós. O que nós vimos foi carnificina,
destruição e confusão”.
O departamento de Marketing da Marvel ainda tentou incluir o
Justiceiro, ou Wolverine na história como forma de ajudar nas vendas. Mas os
autores bateram os pés: sua história seria uma homenagem à Marvel Clássica. E
fizeram bem: Marvels foi um sucesso absoluto, de público e de crítica. E
revolucionou os quadrinhos americanos.
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