No
princípio, o gênero super-herói era uma exclusividade masculina. A primeira
super-heroina dos gibis, a Mulher-gavião, só surgiu em 1941, na revista All
Star Comics 5. Mas a primeira grande heroína de sucesso só surgiria, na mesma
revista, três edições depois. Trata-se da Mulher Maravilha.
A
personagem era uma criação do psicólogo William Moulton Marson. Um dos
criadores do detector de mentiras, Marson desviara-se da carreira acadêmica ao
se transformar numa espécie de guru de auto-ajuda. Ele foi o primeiro psicólogo
a ter uma coluna mensal em uma revista familiar, a Family Circle. Como forma de
valorizar ainda mais suas opiniões, seu texto era apresentado na forma de
entrevistas. Numa delas, ele falou de quadrinhos. Queixou-se da violência
explícita dos gibis, mas disse que talvez os quadrinhos estivessem tocando “no
ponto nevrálgico dos desejos e aspirações universais da humanidade”. Era um
psicólogo falando bem dos quadrinhos! Isso fez com que Willian Gaines, da
National, o convidasse para fazer parte do Conselho Editorial Consultivo da
editora.
Marson
percebeu a chance e decidiu aproveitá-la. Na sua opinião, “o maior crime dos
gibis era sua masculinidade desbragada”. Assim, ele se ofereceu para criar uma
super-heroina que atrairia as crianças e sossegaria os pais.
A
base da nova personagem era a crença de que as mulheres são mais fortes que os
homens, pois controlam a força do amor. Para o psicólogo, homens e meninos
estavam procurando uma garota bonita e empolgante que fosse mais forte que
eles.
Eles
estavam procurando uma Mulher Maravilha! A personagem é uma das Amazonas da
Ilha Paraíso que vem à terra para por fim à guerra e à exploração. Para
combater o machismo e a violência, ela tinha duas armas. A primeira eram
braceletes, com os quais ela poderia se defender contra tiros. Esses braceletes,
além de serem uma arma de proteção, eram também uma lembrança das algemas
impostas às amazonas por Hércules e, portanto, um símbolo do que acontece às
garotas quando elas se deixam conquistar por um homem. A segunda arma era um
laço mágico que obrigava todos que fossem presos por ele a se submeterem à
vontade da Mulher Maravilha. Esse laço era um símbolo do que Marston chamava de
“sedução do amor”, o poder real das mulheres.
Para
desenhar a personagem, os editores da National queriam um ilustrador moderno,
mas Marston bateu o pé no nome de Harry G. Peter, um ilustrador publicitário de
estilo antiquado.
Os
donos da National pareciam ansiosos para ter uma personagem escrita pelo
psicólogo, tanto que não só concordaram com o nome de Peter, como ainda cederam
os direitos dos personagens e royalties perpétuos sobre ela.
Durante
a II Guerra Mundial, a Mulher Maravilha assumiria a identidade da enfermeira
Diana Prince e se apaixonaria pelo capitão Steve Trevor, mas a relação dos dois
sairia do padrão da época, pois era quase sempre ela que o salvava de perigos.
Apesar
das histórias confusas (que sempre incluíam pessoas amarradas) e apesar do
desenhista antiquado, a Mulher Maravilha foi um sucesso, tanto que em 1942
acabou ganhando revista própria. Mas o feminismo não parece ter tocado as
meninas. 90% dos leitores eram homens, sobretudo pré-adolescentes. Para Gerard
Jones, autor do livro Homens do Amanhã, “A Mulher-maravilha, muito mais do que
um modelo para as meninas, como se pretendia que ela fosse, era uma forma dos
meninos se aproximarem dos mistérios mais assustadores”.
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