Claude Shannon, o criador da Teoria da Informação,
percebeu que a capacidade de transmissão de informações de cada canal era
limitada. A partir de um certo ponto, a mensagem era dominada por ruídos.
Os
ruídos são, portanto, os elementos mais prejudiciais à transmissão de
informações.
Podemos
definir como ruído qualquer elemento que atrapalhe o processo de comunicação.
O
termo “ruído”pode dar a entender que se trata apenas de um intruso sonoro, ou
seja, um barulho. Nada mais falso. Qualquer coisa que atrapalhe o transporte da
informação pode ser considerada ruído: um erro de impressão, chuviscos em uma
mensagem televisiva, estática no rádio...
Algumas
vezes o ruído pode ser ocasionado por um problema no receptor. É o que o
ocorre, por exemplo, com a surdez, total ou parcial. A velhinha surda do
programa humorístico, que entende de maneira totalmente distorcida a fala dos
outros personagens é uma ótima representação do conceito de ruído.
Em
algumas situações o ruído pode provocar uma perda total da mensagem. É o caso
de um jornal que saia da gráfica totalmente empastelado. Em outras situações,
ocorre apenas uma interpretação equivocada da mensagem. Décio Pignatari cita
como exemplo do segundo caso a manchete do jornal O Estado de São Paulo, de
1976: “Bertioga vai ser eliminada”. Na verdade, a cidade seria iluminada.
O
ruído pode ser definido igualmente como algo que não faz parte da mensagem e,
portanto, atrapalha a recepção. Assim, uma música clássica, ainda que
agradável, é ruído para quem pretende ouvir uma conversa. Alguém falando é
ruído para quem pretende assistir à televisão.
É importante lembrar que a probabilidade de
ruído está diretamente relacionada à característica do canal. Uma rádio AM
sofre mais ruído que uma FM. Uma conversa ao telefone tem mais ruído que uma
carta.
Da
mesma forma, as várias possibilidades de interrupção (telefone, filhos,
visitas) fazem com que o vídeo-cassete tenha mais ruído que o cinema, no qual
estamos numa sala isolada com a nossa atenção focada apenas no filme.
Isaac
Epstein lembra, no entanto, que o ruído pode se tornar um importante fator de
reorganização do sistema.
É o
que acontece, por exemplo, na evolução biológica.
As
mutações nada mais são que ruídos na transmissão do código genético. Em geral
esses ruídos provocam a criação de indivíduos monstruosos, totalmente
inadaptados às condições ambientais. Mas se surge uma mudança no habitat, os
mutantes podem ser a grande saída da espécie para continuar a existir.
O
caso das girafas é clássico e serviu de objeto de debate entre os cientistas do
século XIX.
Lamarc
sustentava que as girafas, de tanto esticar o pescoço para alcançar as folhas
mais altas, iam encompridando o mesmo e essa característica era transmitida aos
herdeiros.
Darwin
demonstrou que o processo era totalmente aleatório e ocasionado por um ruído
genético. Entre as várias girafas surgiu uma mutação de pescoço mais comprido.
Devido às novas características ambientais (provavelmente uma seca), essa
espécie pôde se alimentar melhor, comendo as folhas do topo das árvores. Assim,
melhor alimentada que as outras, ela se reproduziu mais, transmitindo aos
filhotes suas características genéticas.
Muitas
vezes, a criação de coisas novas surge de um processo de ruído. O champanhe,
por exemplo, foi um vinho que fermentou.
Há
de se destacar também a importância dos ruídos nas mudanças sociais.
O
movimento hippie, quando surgiu, era um ruído para a sociedade da época.
No entanto, não fosse o movimento hippie,
talvez hoje não estivéssemos tão preocupados com questões essenciais para a
sociedade atual, como a ecologia.
Na
época do surgimento do movimento, o mundo ocidental estava tão envolvido com a
euforia do consumismo que não atentou para a tendência entrópica desse
fenômeno.Se a sociedade continuasse como estava, as cidades se tornariam locais
completamente não funcionais, as florestas seriam totalmente destruídas e em
breve estaríamos em cidades completamente caóticas, sem recursos naturais
disponíveis.
Claro
que não vivemos em um mundo perfeitamente ecológico, mas hoje até políticos
conservadores falam da importância de se preservar as florestas e reciclar
materiais que degradam a natureza.
Os
ruídos também são importantes na construção de novos paradigmas científicos.
Segundo Thomas Khun, as revoluções científicas ocorrem quando os cientistas
novos começam a pesquisar anomalias, fenômenos que eram considerados até então
ruídos, erros de observação.
A
teoria de Kepler, de que a órbita dos planetas era elíptica, surge justamente
da observação de um desvio de rota dos planetas, que até então era considerado
um erro de observação.
Isaac
Newton, ao fazer a luz passar por um prisma e decompô-la em todas as cores do
arco-íris, descobriu que cada cor separada é pura, sendo que o branco é uma
mistura delas.
Até
então se achava que as cores surgiam de uma mistura de preto e branco. A
experiência de Newton era um ruído para a ciência da época.
Da mesma forma, a teoria do caos,
ao prestar atenção na irregularidade dos fenômenos, estuda justamente aquilo
que, para a ciência clássica, era apenas um ruído.
Não
é por outra razão que os cientistas revolucionários são constantemente
desprezados e perseguidos pelos colegas.
Esse
estado de coisas é exemplificado pela reclamação de Galileu Galilei:
“Eu
nunca pude entender de onde originou-se o fato de que tudo aquilo eu dos meus
estudos achei conveniente publicar, para agradar ou servir aos outros, tenha
encontrado em muitas pessoas uma certa animosidade em diminuir, defraudar e
desfraudar aquele pouco valor que, se não pela obra, ao menos pela minha
intenção, eu esperava merecer”. (O Ensaiador in Galileu e Newton, coleção Os
Pensadores).
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