segunda-feira, fevereiro 13, 2017

Projeto de pesquisa: hipótese

A hipótese é uma resposta provisória para o problema. É sempre representada por uma frase afirmativa e deve, preferencialmente, estabelecer a relação entre as mesmas variáveis do problema:

EXEMPLO:

PROBLEMA: O uso do computador torna as pessoas mais solitárias?

HIPÓTESE: O computador promove a socialização de tímidos.

         As hipóteses podem ser indutivas ou dedutivas. Se forem indutivas, pesquisa-se vários casos para se chegar a uma lei geral. Parte-se do singular para o universal. A hipótese dedutiva parte do universal para o singular. Assim, formula-se uma lei geral, que deve ser confirmada ou falseada pelo estudo dos casos. Atualmente a hipótese dedutiva é mais usada.
         Lembre-se: sua hipótese pode ser confirmada ou falseada.
         Sua hipótese deve permitir o falseamento, assim, quanto mais específica for, melhor. Popper já dizia que o enunciado “Vai chover amanhã” não é científico, pois certamente vai chover amanhã em algum lugar do mundo. É impossível falsear essa hipótese.
         Imaginemos o seguinte problema:
         A doença X é causada por uma bactéria ou um vírus?
         A hipótese pode ser ou “A doença X é causada por uma bactéria” ou “A doença X é causada por um vírus”.  A hipótese: “A doença X é causada por uma bactéria ou por um vírus” não é científica, pois é difícil de ser falseada.
         Rudio (2002, p.990) explica que uma hipótese deve ser: a) plausível; b) consistente; c) específica; d) verificável; e) clara; f) simples; g) econômica; h) explicativa.
         A seguir, analisaremos cada um desses critérios.
Plausível
A hipótese deve indicar uma situação possível de ser admitida. Assim, diante da problemática “O remédio X cura a inflamação de garganta?”, não serve a formulação: “O remédio X cura imediatamente não só a inflamação de garganta, como a diarréia, o câncer de mama e alergia”. A hipótese não é científica porque, primeiro, nenhum remédio cura imediatamente uma doença e, segundo, nenhum remédio consegue curar doenças tão díspares quanto inflamação de garganta, diarréia e câncer de mama. Formulações desse tipo são características da pseudociência, não da ciência.

Consistente
         A consistência indica que a hipótese não está em contradição com o conhecimento científico existente. Ela também indica que o enunciado não tem contradições internas. Assim, não serve a hipótese: “O remédio X cura a inflamação de garganta, pois essa  doença não tem causas físicas e só pode ser curada  através de um processo espiritual”. A hipótese está errada, pois o conhecimento científico tem demonstrado que a inflamação de garganta tem sim causas físicas. Além disso, o enunciado tem uma contradição interna. Se a doença só pode ser curada através de um processo espiritual, então um remédio físico não pode curá-la.
         É importante notar que há situações incomuns em que as hipóteses vão contra o paradigma dominante. Entretanto, essas hipóteses revolucionárias são baseadas em fatos científicos que não se encaixam na explicação do paradigma, as chamadas anomalias.

Específica
         O enunciado deve ser específico. Hipóteses muito amplas são impossíveis de serem falseadas. Assim, não serve a hipótese: “O remédio X cura doenças”. Quais são as doenças que ele cura? Em que situação? Outro exemplo: “Em qualquer caso, em qualquer situação, o uso de psicotrópicos levará seus consumidores a praticarem crimes”. É impossível observar qualquer caso, qualquer situação referente a esse fenômeno. Por outro lado, uma hipótese específica caracteriza-se como científica: “Os jovens do bairro do Congós em Macapá, envolvidos em crimes no ano de 2000, na sua maioria, são consumidores de drogas psicotrópicas”.
Verificável
         A hipótese deve ser verificável em termos do conhecimento científico atual. Assim, a hipótese “O remédio X cura doenças de origem espiritual” não é científica porque não tem como investigar o espírito humano. Outro exemplo de hipótese que não pode ser verificada: “Os crimes são cometidos por influência de forças malignas”
Clara
         A hipótese deve ser a mais clara possível. Termos não muito claros devem ser evitados, assim como frases repletas de períodos compostos. Exemplo: “Num contexto holístico humano, dentro de uma perspectiva pós-moderna do neoliberalismo contigente, o remédio X pode servir de paliativo numa situação de enfermidade crônica”.
Simples e econômica
         Deve-se evitar todas as palavras que não são necessárias à hipótese. Não enrole ou use uma linguagem pomposa. Exemplo: “Diante do problema dado, pode-se afirmar que o remédio X, de ótima fórmula, cura a doença Y, que tantas vítimas tem feito”. Para começo, toda a parte inicial da hipótese pode ser simplesmente eliminada. “Diante do problema dado” não acrescente nada à hipótese. Ademais, expressões como “de ótima fórmula” ou “que tantas vítimas tem feito” só servem para embelezar a frase, mas não trazem nenhuma informação. Podem, portanto, ser cortadas.
Explicativa

         A hipótese deve, obrigatoriamente, se relacionar com o problema. Uma hipótese que não responda à problemática não tem utilidade. Assim, diante do problema “O remédio X cura a doença Y? “ não serve a hipótese: “O remédio X tem um sabor agradável”.

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