O faroeste sempre foi um gênero popular na Europa, com
vários personagens e vários tipos de abordagens. Mas, no meio de tantos heróis,
um se destacou e se tornou um verdadeiro clássico: trata-se de Blueberry,
criação do roteirista Jean-Michel Charlier em dupla com o desenhista Jean
Giraud, que posteriormente viria a assinar Moebius.
Blueberry
revolucionou ao mostrar um personagem que foge completamente do estereótipo do
cowboy clássico: ele é um beberrão, jogador inveterado e indisciplinado. Em
outra palavras: um anti-herói. Além disso, constantemente, Blueberry toma
partido em favor do índios, uma novidade total, já que até então, com raras
exceções, os índios eram mostrados como vilões.
Além disso,
as histórias de Blueberry mostravam um personagem que evoluía e se tornava mais
experiente com o tempo. Aliás, essa cronologia era mostrada de forma
não-linear, pois a juventude do personagem só foi contada depois que ele já era
famoso.
Jean-Michel
Charlier, o roteirista, é uma verdadeira lenda nos quadrinhos franco-belgas. Aos
23 anos ele abandonou o curso de Direito para se dedicar aos quadrinhos.
Começou escrevendo aventuras do aviador americano Buck Danny para a revista
Spirou, em parceria com o também belga Victor Hubinon. Em 1959, junto com René
Goscinny e Albert Uderzo, fundou a revista Pilote, posteriormente comprada pela
editora Dargaud. Para o traço de Uderzo, criou os aviadores Tangui e Laverdure.
Para Hubinon criou a série juvenil Barba Ruiva, sobre um garoto filho do famoso
pirata.
Jean-Giraud é,
talvez, o desenhista europeu mais famoso de todos os tempos. Ele começou sua
carreira como assistente de Jijé, criador do cowboy Jerry Spring. Seu primeiro
trabalho importante foi justamente o tenente Blueberry. Inicialmente imitando
Jijé, ele foi aos poucos criando um traço próprio, extremamente detalhista e
original. Mas mesmo nas pranchas iniciais de Blueberry já é possível perceber
que ele tinha um talento incomparável. Seu detalhismo chegava ao ponto de, ao
desenhar um saloon, colocar dezenas de pessoas em posições diferentes. Na
década de 1970, Jean-Giroud mudou seu nome para Moebius, juntou-se com outros
desenhistas e roteiristas e revolucionou os quadrinhos franceses com histórias
surrealistas de ficção-científica e fantasia para a revista Metal Pesado.
A junção
desses dois mestres não poderia resultar em algo que não fosse uma obra-prima. Embora
outros cowboys (como tex) possam ser mais famosos, Blueberry é considerado pela
maioria dos críticos como o ponto alto do gênero (honra que é disputada apenas
com o quadrinho italiano Ken Parker).
Charlier fez
uma verdadeira investigação sobre a época, retratando de maneira muito
detalhista o cotidiano do velho oeste. Além disso, ele introduziu fatos e
personagens reais em sua história, num recurso característico da
pós-modernidade que seria imitado posteriormente por outros autores.
Se por um
lado, Charlier teve uma grande preocupação histórica, ele também não descuidou
da aventura. Como as aventuras de Blueberry eram publicada em seminários antes
de serem juntadas num álbum, o roteirista colocava um gancho de suspense no
final de cada página, deixando o leitor curioso para ler o resto. Essa técnica
virou quase que um padrão no quadrinho europeu.
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