37
A rua estava repleta de zumbis
enlouquecidos. Pareciam tomados por uma dança louca, de morte, sangue e fezes.
Sujos e maltrapilhos, eles pulavam e urravam. Umas dez pessoas haviam se
agrupado ao redor do portão e o forçavam. Outros tentavam subir, mas se feriam
no ouriço metálico que, felizmente, conseguia repeli-los.
- Isso não vai aguentar muito
tempo. – sentenciou Jonas. Talvez eles entrem no quintal e, se entrarem, vamos
rezar para que as grades nas janelas e portas aguentem.
Edgar coçou o queixo:
- É bom que um de nós fique de
guarda. Se eles conseguirem passar pelo portão, é bom que estejamos preparados.
- E se o uivo voltar?
- Vamos torcer para que isso não
aconteça.
Alan foi o primeiro a ficar de
vigia. Por via das dúvidas, usara no ouvido os tampões que sempre trazia
consigo. Tinha suas dúvidas de que isso o protegeria do uivo, mas talvez lhe
desse tempo de chegar até o quarto com isolamento antes que ele fosse tomado
pela Górgona.
(Um pensamento terrível o tomou: e
se os amigos se recusassem a abrir a porta para ele, temendo que ele já tivesse
se transformado?)
Assim, suas duras horas de vigília
passaram, entre o medo de que as pessoas enlouquecidas lá de fora derrubassem o
portão e o pavor de que o uivo voltasse a soar.
Pouco mais de uma hora de vigília,
ele começou a ser dominado pelo sono. As imagens de pesadelo vinham e iam como
relâmpagos em meio ao topor.
- Seu imprestável! – gritou a
figura enorme e ameaçadora.
Em seu sonho, Alan se encolheu,
mas a figura continuou vindo em sua direção, os punhos fechados, indo e
voltando, ensaiando um golpe.
- Seu imprestável! Você me
envergonha!
No meio, entre o sonho e a
realidade, os gritos do homem se misturavam ao urro da multidão forçando o
portão.
Alan podia sentir o bafo intenso
de cerveja.
Uma terceira figura estava ali,
escondida pelas sombras. Só era possível ver sua mão feminina, puxando o pai:
- Por favor, esqueça isso. Ele é
seu filho!
- Eu não tenho filho! Esse
imprestável nunca foi meu filho!
Então, a mão se aproximou e tocou
em seu ombro. Alan estremeceu, tomado por calafrios e abriu os olhos.
- Está tudo bem? – perguntou
Edgar, sacudindo-o.
Alan abriu os olhos, aturdido.
- Tudo bem? – insistiu Edgar.
- Sim.
- E as coisas lá fora?
- Acalmaram, mas duvido que o
portão aguente mais uma noite.
Edgar coçou o queixo:
- Vamos precisar procurar outro
local. O uivo não soou?
- Acho que isso só ocorre uma vez
por noite.
No dia seguinte, o grupo se
preparou para rodar pela cidade. Precisavam de gasolina e de um local mais
seguro. Levaram poucas coisas: algumas roupas, comida e as armas improvisadas
que haviam conseguido na caixa de ferramentas.
Dessa vez a cidade parecia ainda
mais destruída que no dia anterior: havia sacos de lixo rasgados e espalhados
pelas ruas, seu conteúdo atraindo moscas e urubus. Viram um ou outro cachorro,
que se afastava rápido ao ouvir o som do carro.
Já tinham rodado mais de meia-hora
quando finalmente avistaram um posto de gasolina.
Edgar parou o carro e começou a
encher o tanque, enquanto os outros vigiavam.
Estavam todos tão preocupados com
os zumbis que ninguém reparou na pequena Pimpinela.
Sem comentários:
Enviar um comentário