A
Marvel sempre teve um pé na ficção científica. Quarteto Fantástico, o principal
gibi da era de prata da editora, era uma série de FC. Mas nenhum autor explorou
tão bem as sagas cósmicas quanto Jim Starlin, o autor que levou a editora ao
infinito.
O
primeiro trabalho de Starlin para a Marvel foi uma edição do Homem de Ferro,
personagem que seu colega de quarto, Mike Friedrich, escrevia. Starlin
aproveitou a oportunidade para colocar ali vários personagens que haviam
surgido para ele em sonho quando estudava psicologia na faculdade. Stan Lee viu
a história, achou o resultado péssimo e afastou Starlin da série.
Mas
Roy Thomas achava que o artista tinha futuro e lhe passou a revista do Capitão
Marvel, que ele mesmo escrevera. A revista vendia mal, o personagem era
praticamente uma página em branco, com uma personalidade insípida. Se não desse
certo, era só cancelar a publicações.
Starlin
reformulou completamente o personagem e o transformou em um sucesso entre a
geração hippie. A história metamorfose, publicada na edição 29 da revista
marcou os quadrinhos da Marvel para sempre e mostrou o quanto Starlin poderia
ser revolucionário.
Nela,
o herói é transportado para uma realidade onde é confrontado por uma criatura
chamada Eon. Starlin encheu a história de cenas de luta, mas os leitores mais
espertos perceberam que toda aquela ação era na verdade uma grande metáfora para
um processo de transformação do personagem que, a partir dessa experiência iria
adquirir consciência cósmica.
As
vendas não paravam de subir e a redação da Marvel começou a receber cartas
destinadas a Starlin que vinham com cigarrinhos de maconha.
Starlin
trouxe para a série um conjunto de personagens que havia testado na história do
Homem de Ferro, entre eles aquele que viria a se tornar o maior vilão cósmico
da Marvel: o titã Thanos, um personagem poderosíssimo, apaixonado pela morte.
Dizem que Starlin queria copiar um dos personagens que Jack Kirby tinha criado
para a DC, Metron. Ao saber disso, Roy Thomas teria lhe dito: já que vai
copiar, copie logo o Darside! Thanos se destaca não só pelo seu poder, mas
principalmente por sua motivação: ele é apaixonado pela Morte e pretende
destruir planetas inteiros para agradá-la. Essa motivação torna o personagem
complexo: embora seu objetivo seja o assassinato em massa, ele o faz movido
pelo amor.
Se
o Capitão Marvel serviu para testar os conceitos lisérgicos e cósmicos de
Starlin, foi outro personagem, Warlock, que lhe rendeu seus momentos mais
inspirados.
Warlock
havia sido criado como personagem secundário do Quarteto Fantástico pela dupla
Stan Lee e Jack Kirby e teve uma revista própria escrita por Roy Thomas com
arte de Gil Kane, sem muito destaque.
Starlin
introduziu na série um novo vilão, o poderoso Magus, que é, na verdade, o
Warlock do futuro. Magus dominou a galáxia, impondo um regime totalitário
baseado na sua igreja, a Irmandade Universal e uma espécie de inquisição, que
arrasa mundos que não seguem seu credo. O artista começou aí a abordar um dos
seus temas mais caros: os perigos do fanatismo religioso e a religião como
forma de alienação e totalitarismo. Uma das primeiras histórias produzidas por
Starlin já aborda o assunto, com o personagem sendo submetido a uma lavagem
cerebral para se adaptar aos sistema.
A
série ganhou dois personagens secundários que conquistaram os fãs: Gamorra, a
mulher mais perigosa da galáxia e o troll Pip, e trouxe de volta o grande vilão
criado por Starlin: Thanos.
A
série fez tanto sucesso que o capítulo final, o confronto definitivo com
Thanos, teve a participação dos Vingadores e do Homem-aranha, duas das séries
mais populares da Marvel – e até hoje essa história está entre as melhores dos
Vingadores.
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