quarta-feira, abril 12, 2017

Jim Starlin e a Marvel cósmica


A Marvel sempre teve um pé na ficção científica. Quarteto Fantástico, o principal gibi da era de prata da editora, era uma série de FC. Mas nenhum autor explorou tão bem as sagas cósmicas quanto Jim Starlin, o autor que levou a editora ao infinito.
O primeiro trabalho de Starlin para a Marvel foi uma edição do Homem de Ferro, personagem que seu colega de quarto, Mike Friedrich, escrevia. Starlin aproveitou a oportunidade para colocar ali vários personagens que haviam surgido para ele em sonho quando estudava psicologia na faculdade. Stan Lee viu a história, achou o resultado péssimo e afastou Starlin da série.
Mas Roy Thomas achava que o artista tinha futuro e lhe passou a revista do Capitão Marvel, que ele mesmo escrevera. A revista vendia mal, o personagem era praticamente uma página em branco, com uma personalidade insípida. Se não desse certo, era só cancelar a publicações.
Starlin reformulou completamente o personagem e o transformou em um sucesso entre a geração hippie. A história metamorfose, publicada na edição 29 da revista marcou os quadrinhos da Marvel para sempre e mostrou o quanto Starlin poderia ser revolucionário.
Nela, o herói é transportado para uma realidade onde é confrontado por uma criatura chamada Eon. Starlin encheu a história de cenas de luta, mas os leitores mais espertos perceberam que toda aquela ação era na verdade uma grande metáfora para um processo de transformação do personagem que, a partir dessa experiência iria adquirir consciência cósmica.
As vendas não paravam de subir e a redação da Marvel começou a receber cartas destinadas a Starlin que vinham com cigarrinhos de maconha.
Starlin trouxe para a série um conjunto de personagens que havia testado na história do Homem de Ferro, entre eles aquele que viria a se tornar o maior vilão cósmico da Marvel: o titã Thanos, um personagem poderosíssimo, apaixonado pela morte. Dizem que Starlin queria copiar um dos personagens que Jack Kirby tinha criado para a DC, Metron. Ao saber disso, Roy Thomas teria lhe dito: já que vai copiar, copie logo o Darside! Thanos se destaca não só pelo seu poder, mas principalmente por sua motivação: ele é apaixonado pela Morte e pretende destruir planetas inteiros para agradá-la. Essa motivação torna o personagem complexo: embora seu objetivo seja o assassinato em massa, ele o faz movido pelo amor.
Se o Capitão Marvel serviu para testar os conceitos lisérgicos e cósmicos de Starlin, foi outro personagem, Warlock, que lhe rendeu seus momentos mais inspirados.
Warlock havia sido criado como personagem secundário do Quarteto Fantástico pela dupla Stan Lee e Jack Kirby e teve uma revista própria escrita por Roy Thomas com arte de Gil Kane, sem muito destaque.
Starlin introduziu na série um novo vilão, o poderoso Magus, que é, na verdade, o Warlock do futuro. Magus dominou a galáxia, impondo um regime totalitário baseado na sua igreja, a Irmandade Universal e uma espécie de inquisição, que arrasa mundos que não seguem seu credo. O artista começou aí a abordar um dos seus temas mais caros: os perigos do fanatismo religioso e a religião como forma de alienação e totalitarismo. Uma das primeiras histórias produzidas por Starlin já aborda o assunto, com o personagem sendo submetido a uma lavagem cerebral para se adaptar aos sistema.
A série ganhou dois personagens secundários que conquistaram os fãs: Gamorra, a mulher mais perigosa da galáxia e o troll Pip, e trouxe de volta o grande vilão criado por Starlin: Thanos.

A série fez tanto sucesso que o capítulo final, o confronto definitivo com Thanos, teve a participação dos Vingadores e do Homem-aranha, duas das séries mais populares da Marvel – e até hoje essa história está entre as melhores dos Vingadores. 

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