61
Há quanto tempo tinha acontecido?
Há um dia, dois? Três?
Ela nunca saía de casa sozinha,
mas naquela noite resolvera que queria assistir a um filme no shopping.
Ela imaginou que alguém lhe
perguntaria por que isso era algo diferente, mas ninguém se lembrou disso.
Ficavam ali, parados, apenas olhando para ela, esperando por mais e mais
palavras dela. Especialmente o rapaz mais novo. Ele lhe olhava de maneira
diferente e Dani não sabia se gostava ou não disso.
Não aconteceu nada durante o
filme. Parecia uma sessão de cinema como qualquer outra. Quando terminou, as
pessoas foram saindo uma a uma. Dani também pensou em sair, mas algo – ela
sabia muito bem o que era – a impediu. Ela tentou ligar para sua mãe, mas o
número não atendia. Ela ficou ali, na sala de espera do cinema, vendo os
funcionários fecharem a loja de comidas e bebidas e limparem tudo. Ela os
olhava e tentava ligar para sua mãe, mas o maldito celular não atendia.
Então um dos funcionários se
aproximou e disse que ela não podia ficar ali, que eles teriam que fechar, mas
tudo que Dani conseguia prestar atenção era na mancha amarela na camisa do
uniforme dele. Ela observava e se prendia a isso, como fosse uma forma de adiar
o inevitável.
Dani saiu do cinema e olhou à
volta, no shopping. Não havia ninguém lá. Todas as pessoas que estava com ela
na sessão de cinema provavelmente deveriam estar em casa a essa hora. E, ainda
assim, o celular de sua mãe não atendia.
O que fazer? Sair e pegar um
ônibus? Já era tarde demais e, além disso, ela sabia muito bem que nunca sairia
sozinha. A simples ideia de sair do local sozinha lhe era terrível. Haveria,
talvez, a possibilidade de pegar um taxi, se encontrasse algum.
A garota olhou no relógio: meia
noite e meia. Talvez ainda conseguisse pegar um taxi, mas antes de sair ela se
certificaria de que poderia achar algum. Havia um local envidraçado do qual
podia observar o ponto de taxi e ter certeza de que encontraria um. Mas a
imagem que viu lhe pareceu estranha. A rua estava deserta. Havia dois taxis no
ponto, mas não havia ninguém por perto. Um deles estava com a porta aberta, mas
ela não via qualquer sinal do motorista. Que tipo de taxista abandonaria seu
carro assim, aberto?
Ela tentou de novo o celular e
novamente chamou, chamou, até não atender. Isso lhe deu um arrepio na espinha.
Mas ela só entrou realmente em desespero quando tentou vários outros números –
de amigos, parentes, de colegas de colégio – e ninguém, ninguém atendeu.
1 comentário:
Estou gostando muito da história. Por favor, continue.
Enviar um comentário