quarta-feira, maio 24, 2017

O uivo da górgona - parte 61


61
Há quanto tempo tinha acontecido? Há um dia, dois? Três?
Ela nunca saía de casa sozinha, mas naquela noite resolvera que queria assistir a um filme no shopping.
Ela imaginou que alguém lhe perguntaria por que isso era algo diferente, mas ninguém se lembrou disso. Ficavam ali, parados, apenas olhando para ela, esperando por mais e mais palavras dela. Especialmente o rapaz mais novo. Ele lhe olhava de maneira diferente e Dani não sabia se gostava ou não disso.
Não aconteceu nada durante o filme. Parecia uma sessão de cinema como qualquer outra. Quando terminou, as pessoas foram saindo uma a uma. Dani também pensou em sair, mas algo – ela sabia muito bem o que era – a impediu. Ela tentou ligar para sua mãe, mas o número não atendia. Ela ficou ali, na sala de espera do cinema, vendo os funcionários fecharem a loja de comidas e bebidas e limparem tudo. Ela os olhava e tentava ligar para sua mãe, mas o maldito celular não atendia.
Então um dos funcionários se aproximou e disse que ela não podia ficar ali, que eles teriam que fechar, mas tudo que Dani conseguia prestar atenção era na mancha amarela na camisa do uniforme dele. Ela observava e se prendia a isso, como fosse uma forma de adiar o inevitável.
Dani saiu do cinema e olhou à volta, no shopping. Não havia ninguém lá. Todas as pessoas que estava com ela na sessão de cinema provavelmente deveriam estar em casa a essa hora. E, ainda assim, o celular de sua mãe não atendia.
O que fazer? Sair e pegar um ônibus? Já era tarde demais e, além disso, ela sabia muito bem que nunca sairia sozinha. A simples ideia de sair do local sozinha lhe era terrível. Haveria, talvez, a possibilidade de pegar um taxi, se encontrasse algum.
A garota olhou no relógio: meia noite e meia. Talvez ainda conseguisse pegar um taxi, mas antes de sair ela se certificaria de que poderia achar algum. Havia um local envidraçado do qual podia observar o ponto de taxi e ter certeza de que encontraria um. Mas a imagem que viu lhe pareceu estranha. A rua estava deserta. Havia dois taxis no ponto, mas não havia ninguém por perto. Um deles estava com a porta aberta, mas ela não via qualquer sinal do motorista. Que tipo de taxista abandonaria seu carro assim, aberto?

Ela tentou de novo o celular e novamente chamou, chamou, até não atender. Isso lhe deu um arrepio na espinha. Mas ela só entrou realmente em desespero quando tentou vários outros números – de amigos, parentes, de colegas de colégio – e ninguém, ninguém atendeu. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Estou gostando muito da história. Por favor, continue.