Em 1967 surgia nas páginas da revista Pilote uma série que
iria mudar para sempre a ficção científica nos quadrinhos. Chamava-se Valerian –
agente espácio-temporal e era produzida por dois novatos, o roteirista Christin
e o desenhista Mézières.
Em sua primeira história, que daria origem ao álbum “Maus
sonhos”, o desenho ainda parecia simplista e os roteiros ingênuos. Mas já era
possível perceber que havia algo ali, especialmente
quando o agente Valerian, em viagem temporal para a Idade Média encontra uma
moça, Laureline, que conquista os leitores e se torna personagem fixa da série.
Os artistas eram dois jovens franceses que havia se mudado
para os EUA na infância e se reencontraram na adolescência. Com o dinheiro do
primeiro álbum eles comprariam sua passagem de volta para o país natal, onde
iriam revolucionar os quadrinhos.
O segundo álbum “A cidade das águas movediças” já trazia um
traço mais seguro e um roteiro mais bem amarrado, além de referências que
mostravam o quanto a obra dialogava com o pós-modernismo. O mafioso Sun Rae foi
inspirado no músico de jazz Sun Ra. O cientista Schroeder, além da referência
óbvia ao personagem pianista da tira Peanuts, tinha as feições de Jerry Lewis
no filme O professor Aloprado.
Mas seria no terceiro álbum, “O império dos mil planetas”
que a dupla acertaria a mão, definindo o estilo que os diferenciaria de tudo
que havia sido feito até então em termos de ficção científica. Foi nesse álbum
que a vocação de Mézières para criar cenários exuberantes se revelou. Também
foi nessa história que Christin mostrou sua capacidade de criar civilizações
extraterrestres e seus hábitos culturais.
A sequência inicial, mostrando a feira do planeta-império, é
primorosa.
Nela descobrimos que mercadores comercializam schalmis,
espécie de conchas gigantes, onde as pessoas se recolhem em busca de
esquecimento. Conhecemos as pedras vivas de Arphal, que se fixam à pele como as
mais belas jóias. Ou os raríssimos spiglics de bluxte, que vivem sobre a cabeça
de seus donos, transmitindo a eles perene felicidade através de telepatia.
A série fez tanto sucesso na Europa que Valerian e
Laureline, dois nomes que não existiam, tornaram-se populares a ponto de muitos
pais batizarem seus filhos com eles.
Outra consequência é mais polêmica. Desde que saiu o
primeiro filme de Star Wars, o desenhista percebeu várias coincidências entre o
filme e suas imagens publicadas no álbum.
O visual de escrava da princesa Lea no filme “O retorno de
Jedi”, por exemplo, é muito parecido com o de Laureline em “O país sem estrelas”.
A nave usada pelos personagens é semelhante à Millennium Falcon, além de várias
outras semelhanças.
Além disso, a personalidade independente da princesa Lea
está muito mais para a Laureline do que para as princesas das histórias
clássicas de ficção científica, que ficava paralisadas diante do perigo,
esperando serem salvas pelos heróis.
O sonho dos autores de ver sua história adaptada para o cinema irá
finalmente se realizar: o cineasta Luc Besson adaptou a história para a telona
e previsão de estreia é ainda para este ano.
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