Em
Os pilares da Terra, Ken Follett construiu uma obra grandiosa, uma verdadeira
saga em torno da construção de uma catedral na Inglaterra do século XII.
A
história se passa entre os anos de 1123 e 1174. É um período de transformações
que irão se refletir principalmente na arquitetura. Até então, as catedrais
eram edifícios atarracados, de paredes grossas e janelas pequenas, locais
escuros e insalubres. Aos poucos irão se transformar em imponentes edifícios
esbeltos, belos, altos, com amplas janelas enfeitadas de vitrais coloridos que
filtravam a luz do sol provocando grande deslumbramento nos que as visitavam.
Follett
foca sua narrativa na construção de uma catedral fictícia, Kingsbridge e em um homem, Tom
Construtor. Mas a narrativa envolve também uma ampla variedade de personagens,
do prior de Kingsbridge a uma mulher que se refugiou na floresta depois
de amaldiçoar pessoas poderosas que haviam condenado seu marido à forca. É também
uma saga que se desenrola por décadas, o tipo de livro no qual vemos os
personagens nascerem, crescerem, envelhecerem, acompanhamos seus sonhos, suas
frustações e vitórias.
Concentrando tudo, como personagem principal, a
catedral. O autor mostra como a construção de uma igreja de tamanha envergadura
muda tudo ao seu redor: do comércio que se desenvolve aos conflitos palacianos
que se desenvolvem (um dos vilões do livro é um bispo, que jura impedir a
construção).
Follett maneja bem duas instâncias
aparentemente opostas: a realidade e a ficção. Assim, ele mistura fatos e
personagens reais (o mártir São Tomás Becket merece toda uma sequência) com
pura ficção. Aliás, o romance pode ser visto ele mesmo como uma catedral: os
fatos e pessoas reais são o cimento, que dão sustentação para os tijolos ficcionais.
A narrativa de Follett passa longe de ser
elaborada: ele é um escritor que parece estar mais interessado na costura da
trama do que em jogos literários. Isso certamente foi um fator que fez o livro
se tornar um best-seller, apesar de seu tema de pouco apelo popular. O roteiro
é redondo, sem falhas, com fatos que se encaixam perfeitamente, personagens que
parecem não ter importância, mas se revelam fundamentais para a trama e
segredos que são revelados no momento exato.
A obra é um verdadeiro tijolaço. São quase mil
páginas de texto, mas que prendem o leitor – em especial após o primeiro terço.
E, ao final, aquilo que poderia afastar o leitor – os detalhes sobre a
arquitetura da época – acaba se transformando em uma atração a mais. Eu, ao
menos, fiquei curioso para conhecer mais sobre o assunto.
Um único ponto negativo é a capa pouco
inspirada da edição encadernada da editora Rocco. Em um livro sobre uma
catedral e seus monges e construtores, usaram a imagem de soldados combatendo
em frente a um castelo.
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