Existem obras que, pela qualidade visual e
literária, transformaram os quadrinhos na nona arte. Um exemplo disso é a
minissérie Skreemer, de Peter Milligan (texto) e Brett Ewins (desenho). Os dois
produziram uma obra que, embora tenha tido inspiração na literatura, não
caberia num livro.
O tutor literário de Milligan é James
Joyce, autor de Ulisses. Foi no livro Finnegan´s Wake que o roteirista se
baseou para escrever sua HQ. Por sua vez, o livro de Joyce é uma referência a
uma canção popular irlandesa, na qual um homem volta do mundo dos mortos após
levar um banho de uísque.
Na história em quadrinhos, os EUA são
dominados por gangues, que governam o país. O maior dos chefões é Sreemer, um
homem frio, atormentado pelo destino.
Quando a história começa, a império de
Skreemer está desmoronando. As outras quadrilhas o cercam, preparando-se para
lançar o ataque final. Mas o gigante não pretende cair. Para isso, ele lançará
sobre a cidade balões com um novo tipo de doença, contra a qual apenas ele tem
a cura. Isso criará a instabilidade necessária para que a era da queda se
perpetue.
Toda a história (seis capítulos) se passa
na meia-hora, no máximo: enquanto espera a concretização de seu plano, Skreemer
se lembra de seu passado. É aí que entra o grande charme de Skreemer: os flash
backs. Fora a meia-hora de espera, todo o resto são lembranças do gangster.
Milligan ainda meteu pelo meio a história
da família Finnegan, cujo patriarca se orgulha de ter o nome ligado a um livro
de James Joyce que, como a vida, andava em círculos e era complicado demais
para se entender.
Essa trama é usada para discutir, entre
outros assunto, o destino, cuja mão implacável parece governar a todos.
Skreemer se torna um MacBeth moderno, um monarca atormentado pelo estigma da
traição e da queda, lutando para romper um futuro que parece inevitável. Mais
que uma boa história em quadrinhos, Skreemer é um exemplo de como os quadrinhos
superam, em alguns sentidos, até mesmo a literatura. A alternância entre cenas
do presente e do passado é feita através de mudanças de coloração (opaca nos
flash backs). Texto e desenho se unem para transmitir uma mensagem que permite
várias leituras.
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