Depois da prisão, o escritor publicou aquele que é,
provavelmente, o livro mais original do sítio: A Chave do Tamanho. Na história,
Emília, enervada com a bestialidade humana, resolve acabar com a Segunda Guerra
Mundial. Usando o pó do pirlimpimpin, ela se transporta para a casa das chaves.
Sim, porque todas as coisas do mundo têm uma chave, como a chave da
eletricidade, e alguém tinha ligado a chave da guerra. . Emília inventou de
fechá-la. Mas chegando lá deu com uma sala cheia de chaves sem qualquer
identificação. E agora? Qual era a chave da guerra?
Como
não há como saber, Emília puxa a primeira que encontra. E encolhe. Não só ela,
mas todas as pessoas do mundo. Em todo caso, acaba-se a guerra. Como iriam
continuar os homens guerreando se ficaram menores que formigas? Claro que no
final tudo volta ao normal, mas as quase 200 páginas do livro são um grande
discurso contra o totalitarismo. Nesse livro Lobato deixa claro sua esperança
num mundo melhor. Sua esperança estava nas crianças.
Até
aí nada de realmente estranho. A ditadura militar de 64 vivia propagando que as
crianças e os jovens eram o futuro do país. A diferença é que Lobato não achava
que as crianças fossem o futuro, mas sim o presente. Os livros do Sítio são os
primeiros publicados no Brasil em que as crianças têm voz ativa e liberdade de
ação. Pedrinho, Narizinho e Emília (que, embora fosse uma boneca, representava
as crianças) não esperam crescer para tomar opiniões a respeito do mundo ou
para agir afim de transformá-lo.
Em
que outro lugar do mundo, senão no Sítio, as crianças já tiveram direito de
expressão e de voto?
Um
bom exemplo disso é a maneira como é resolvida a questão do tamanho. Todo o
pessoal do sítio é convocado para decidir se a humanidade volta ao tamanho
normal ou continua como está. As crianças defendem a pequenês. Os adultos, a
volta ao tamanho normal. Fazem o plebiscito e a pequenês perde unicamente por
causa do voto do Visconde.
Em
todos os seus livros, Lobato mostra que as crianças mais abertas para as
novidades, para a mudança; bem ao contrário dos adultos, que já se acostumaram
com o mundo como ele está. Entretanto, são justamente as novas idéias que levam
ao progresso da humanidade.
“Os
personagens foram nascendo ao sabor do acaso e sem intenções”, dizia Lobato.
“Emília começou como uma feia boneca de pano, dessas que nas quitandas do
interior custavam 200 réis. Mas rapidamente evoluiu, e evoluiu cabritamente -
cabritinho novo, aos pinotes. Teoria biológica das mutações. E foi adquirindo
uma tal independência que, não sei em que livro, quando lhe perguntaram: ‘Mas
que você é, afinal de contas, Emília?’, ela respondeu de queixinho empinado:
‘Sou a independência ou a morte’. E é tão independente que nem eu, seu pai,
consigo dominá-la. Quando escrevo um desse livros, ela me entra nos dois dedos
que batem as teclas e diz o que quer, e não o que eu quero”.
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