Em 1917, Lobato, já formado, é nomeado promotor
público da cidade de Areias, no interior paulista. Areias era o que o autor
mais tarde chamaria de Cidades Mortas. Vítimas das mudanças econômicas, esses
lugarejos, antes prósperos, viviam em estado de lesmice patológica. Com a
economia local quebrada, a maior parte dos jovens se mudara para cidades mais
desenvolvidas e só ficava em Areias quem não tinha condições ou idade para a
mudança.
Numa
cidade como essa, até o passeio matutino do recém-nomeado promotor público
virava atração pública. As moças saiam na janela para ver Lobato passar.
Naquela
época Lobato já namorava sua futura esposa, Maria da Pureza Natividade. Ia de
vez em quando a São Paulo para vê-la. As cartas escritas para ela revelam
gripes, caçadas a onças, uma ou outra refrega entre vizinhos e muita saudade.
Em suma, não havia o que fazer em Areias. Assim , Lobato gasta a maior parte do
tempo lendo e escrevendo. Vai passando para o papel o que observa no lugarejo.
São esses escritos que mais tarde formarão o livro Cidades Mortas. Nos escritos, Areia é rebatizada de Oblivion,
depois Itaoca.
Em
Oblivion só meia dúzia de pessoas recebe jornais. São a intelectualidade local.
Livros só há três, que passam de mão em mão. Cada um que pegava fazia questão de escrever
algo. “Li e gostei”, afirmava um. Outro versificava: “Já foi lido - pelo
Valfrido”.
Cidades
Mortas é cheia desses casos, entre eles o de um réu que escapou enquanto o júri
permanecia horas reunido numa sala, incapaz de tomar uma decisão.
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