Dick
Tracy, de Chester Gould, deu um toque urbano à era de ouro. Apesar dos roteiros
muitas vezes realistas, inclusive com mortes, Dick Tracy representava um
sentimento de fuga do Norte americano de um dos seus problemas mais graves: a
forte criminalidade, comandada pelos gangsters que assolavam os EUA.
O
personagem de Chester Gould não foi o primeiro policial dos quadrinhos. Antes
dele já havia algumas tentativas, como Alex the cop, mas nenhuma obteve tanto
sucesso. E nenhuma ficou tão impregnada na
mente dos leitores.
Chester Gould nasceu em Pawnee, no Oklahoma, a 20 de
Novembro de 1900. Desde criança publicava ilustrações no jornal local, mas sua
carreira como desenhista só iria deslanchar quando ele se mudou para Chigaco,
em 1919, onde estudou na Universidade de Northwestern.
Antes de Dick Tracy ele chegou a desenhar uma série
chamada The Girlfriends, de pouco sucesso. Ele percebeu que precisava de um
novo tema para se destacar entre seus pares.
Nessa época Chicago era dominada por gangsteres. All
Capone era o herói local e Gold ficou incomodado com a forma como os bandidos
eram retratados. Na sua opinião, as pessoas precisavam de um outro modelo, uma
pessoa decente e moralmente intocável. Ele criou, então, um detetive de queixo
quadrado e chamou-o de Plainclothes Tracy. O editor gostou da idéia, mas
sugeriu que o nome fosse mudado para Dick Tracy.
A história foi publicada em 04 de outubro de 1931, no
Chicago Daily, mas logo estaria espalhada por muitos jornais nos EUA e no
mundo.
Dick Tracy vivia num mundo em que a separação entre o bem
e o mal era absoluta. Se ele representava o bom mocinho, os vilões eram o
cúmulo da maldade. Aliás, segundo muitos autores, o sucesso da série se deve
justamente aos ótimos vilões criados por Gould.
Tais vilões eram geralmente deformados, uma forma de
mostrar, visualmente, sua moralidade distorcida (um recurso muito comum nos
quadrinhos). Alguns desses vilões, mesmo aparecendo em apenas um episódio,
tornaram-se queridos dos fãs. Flattop, foi um exemplo. Quarenta anos depois
dele ter morrido nas tiras, os fãs ainda mandavam cartas ao autor lembrando de
suas proezas.
O destino dos vilões era sempre cruel, embora raramente
eles fossem mortos por Tracy. A maioria morria em situações provocadas por eles
mesmos, como se sua falta de moralidade definisse seu destino. Assim, The Brow,
ao tentar fugir de Tracy, pula por uma janela e acaba sendo espetado por um
mastro de bandeira. Boris Arson e seus homens são dizimados por tigres que eles
mesmo guardavam em seu esconderijo. 88 Key, tentando esconder-se num buraco
durante uma tempestade de gela, acaba por se sufocar e morrer congelado.
Se os vilões morriam por suas próprias ações, Tracy
sobrevivia a tudo.
O pesquisador de quadrinhos Herb Galewitz, analisando a
obra de Gould, descobriu que o detetive havia sofrido 27 ferimentos com arma de fogo, apenas nos seus primeiros 30 anos
de vida. Se não bastasse isso, ainda quebrou costelas, teve cegueira temporária
e até chegou a ser internado numa clínica, precisando de aparelhos para
continuar respirando. Apesar disso, ele sempre voltava para combater o crime.
Gould antecipou o telefone
celular, comodamente instalado no pulso de Dick Tracy, e a importância do
sistema de telecomunicações para as viagens espaciais, o que fez com que a
revista National Geographic o chamasse de visionário.
A importância de Dick Tracy
se deve não só pela obra em si, mas também pela forma como influenciou outros
personagens e artistas. Seus vilões serviram como base para os vilões estranhos
de Batman, como o Coringa ou o Charada. Além disso, seu desenho simples,
estilizado, com poucos traços, influenciou toda uma geração de artistas, entre
eles o brasileiro Flávio Colin.
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