O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente. O
que aconteceria se esse adágio popular fosse aplicado a um super-herói? Essa é
a premissa básica de The Nazz, minissérie em quatro partes escrita por Tom
Veitch e desenhada por Bryan Talbot e publicada pela editora Abril em 1992.
The Nazz surge no rastro de Watchmen, Miracleman, Zenith e
outros trabalhos que levaram o gênero super-herois a extremos ainda não
experimentados e talvez tenha sido a abordagem mais radical nesse sentido.
Na história, um garoto fascinado pela ideia de poder viaja ao
oriente, onde conhece um guru que o inicia em um culto de morte e finalmente o
leva aos caminhos místicos que o tornam um ser super-poderoso.
Ao voltar para os EUA, ele monta um culto e monta uma equipe
que se tornará rival da equipe de vigilantes do governo, os Retaliadores,
criados por uma equipe de relações públicas.
The Nazz é a história de um homem sendo corrompido pelo poder
(ou corrompendo o poder, de acordo com a interpetação). Essa transformação é muito
bem representada pelas capas. A primeira delas mostra o protagonista ainda um
ser humano normal, meditando em meio a um cenário repleto de crânios. A segunda
capa o mostra como um pop star, tendo ao fundo histórias em quadrinhos de
super-heróis. Na terceira capa ele está gordo, nu, olhar fixo para o leitor, parecendo
uma versão decandente de um astro de rock. Na quarta capa ele está transformado
de um deus ameaçador.
A influência de Watchmen é nítida não apenas no tema da HQ,
mas também na sua narrativa, que une quadrinhos criados por um amigo de Nazz,
matérias de jornais, um press-realease e fotos autografadas. Esse conjunto de
elementos, embora nem de longe tenham e efetividade narrativa de Watchmen,
ajudam a construir uma narrativa coerente.
Tom Veitch relaciona o fenômeno dos super-heróis com as
seitas surgidas na década de 1960, seus gurus e fins trágicos.
Há de se destacar também o nome do personagem, Nazz lembra
nazismo e evoca super-homem sonhado por Hitler.
O desenho de Bryan Talbot se encaixa perfeitamente no
projeto. Poucos desenhistas conseguiriam dar o tom sombrio adequado para essa
HQ. Seu traço sujo exterioriza perfeitamente o tema sobre a corrupção do poder.
The Nazz é um daqueles trabalhos que melhor representam uma
época e merecia uma republicação.
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