A tira Peanutz foi criada por Charles Schulz no início da década de década
de 1950 e rapidamente tornou-se um sucesso, chegando a aparecer em mais de 2600
jornais em todo o mundo, tendo um
público leitor estimado em 355 milhões, em 75 países.
Na década de 1970 o sucesso
da tira levou ao surgimento do desenho animado, que era pessoalmente
supervisionado por Schulz. Ao invés de descaracterizar a obra, o desenho
ampliou-a para além dos limites dos quatro quadros diários.
Conta-se que um psiquiatra,
chegando ao seu consultório, encontrou um bilhete de seu primeiro paciente,
dizendo que estava dispensando o tratamento com médico, pois havia encontrado a
causa de seus traumas. E ilustrava a situação com uma tira de Peanuts.
A história, real ou lendária,
ilustra a incrível capacidade que Schulz tinha de perceber os dramas e traumas
humanos, sintetizando-os na figura de crianças. Umberto Eco disse que ¨a poesia
dessas crianças nasce do fato de que nelas encontramos todos os problemas,
todas as angústias dos adultos que estão nos bastidores¨.
Nessa história aparentemente
ingênua, encontramos os mais variados tipos humanos e seus conflitos.
Charlie Brown, o personagem
principal, é o estereótipo do fracassado. Ele não consegue empinar uma pipa ou
chutar uma bola. A única vez em que ganhou algo na vida, o prêmio foi um corte
de cabelo. ¨Mas eu sou careca, e meu pai é barbeiro!¨ retrucou ele. Noutra
ocasião, dançou com a rainha do baile, mas é incapaz de lembrar de nada desse
acontecimento.
Se Charlie Brown é o a bigorna, na
qual batem todos os males e dissabores da vida, a menina Lucy Van Pelt, irmã de
Linus, é o martelo. Sua vida é provocar traumas no pobre Minduim, mostrando a
cada momento o quanto ele é incapaz. Sua tirada mais clássica é fazer Charlie
Brown acreditar que finalmente será capaz de chutar a bola, para tirá-la no
último momento. Interessante que, apesar disso, ninguém jamais pensa em
culpá-la pela derrota do time. O culpado é sempre aquele que não conseguiu
chutar a bola.
Uma biografia escrita recentemente
com o título de Schulz and Peanuts dá a entender que o próprio autor colocava
suas neuroses nos quadrinhos, razão pela qual elas parecem tão reais. O autor
descreve Schulz como um homem solitário, tímido e infeliz, dominado por figuras
autoritárias, como sua primeira esposa e sua mãe, ambas representadas na
personagem Lucy. Schulz se identificaria tanto com Charlie Brown, o fracassado,
quanto com Schroeder, o músico. Este último seria o lado artístico, através do
qual ele se libertaria da tirania da esposa. Sintomaticamente, outra cena
famosa é a de Lucy tentando conseguir a atenção do pianista, que a despreza
solenemente enquanto toca.
Nesse sentido, Snoopy,
provavelmente, representaria a liberdade criadora. Se Charlie Brown é o pé no
chão, as tristezas e agruras da vida, Snoopy pode viajar o mundo e até mesmo
ser um famoso piloto da I Guerra Mundial. Não por acaso, Charlie Brown é o
personagem predileto dos adultos, que vêm nele seus traumas (a tirinha é a mais
recortada, exibida e enviada a colegas nos EUA) e Snoopy é o personagem
preferido das crianças pequenas, que ainda vislumbram na vida mais seus pontos
positivos que negativos.
Mesmo depois da morte do
autor, as tiras de Peanuts (ou Snoopy) continuam sendo republicadas em jornais
e coletâneas e encantando crianças e adultos. E recentemente se transformou em
um ótimo desenho animado para cinema.
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