Desmond Morris era um zoólogo
especializado em pesquisar primatas. Um dia ele percebeu que o método de
observação que usava para analisar o comportamento dos macacos poderia ser
usado para os seres humanos. O resultado disso foi o livro O macaco nu. Posteriormente,
Morris desenvolveu suas ideias numa obra mais completa, “Você – um estudo
objetivo do comportamento humano”, certamente um dos melhores livros que já li.
A obra faz análises de
comportamento a partir das observações do autor. Há, por exemplo, um capítulo
apenas sobre a pupila e como o tamanho dela mostra ou não nosso interesse por
algo (da mesma forma como o tamanho da pupila de alguém pode torná-la
interessante para um possível par).
Um dos capítulos mais
interessantes é o que trata de estímulos Supernormais. Segundo Morris, um estímulo
supernormal “é o que excede seu correlativo natural”. Em outras palavras, é o
que chamamos de hiper-realidade.
O autor começa analisando como o
ser-humano modifica a sua própria natureza de maneira artificial: se quer ficar
mais alto, usa sapatos de salto, se deseja melhorar a maciez de sua pele, usa
cremes. Usa peruca, cílios postiços, maquiagem. “São intermináveis as maneiras
como ele ampliou seus sinais corporais como meio de aperfeiçoar suas exibições
sexuais, suas exibições hostis ou exibições de status”.
Mas o ser humano passou a
supernormalizar também o ambiente à sua volta. Um passeio pelo supermercado
revela uma série de ardis supernormalizantes: dentrifícios que prometem um riso
supernormal, sabões que prometem uma limpeza supernormal, xampus que prometem
uma maciez supernormal dos cabelos. E esse recurso já inicia na embalagem: “A
vasta indústria da propaganda comercial está interessada quase que inteiramente
na questão de ampliar o apelo visual dos produtos. Já que muitos dos produtos
reais são virtualmente indênticos, é necessário dedicar atenção de perito para apresentá-los
de modo mais estimulante que os rivais”.
O recurso é usado até mesmo nos
desenhos: “Como as pernas de uma garota se tornam mais longas quando ela se
aproxima da maturidade sexual, segue-se que pernas compridas podem ser vistas
como sensuais. Os artistas que retratam garotas atraentes, então, exageram o
comprimento das pernas em seus desenhos e pinturas”.
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