O sucesso do Quarteto Fantástico
fez com que Stan Lee ganhasse carta branca do dono da Atlas (agora rebatizada
de Marvel), Martin Goodman, para criar novos personagens. Lee tinha criado uma
nova maneira de fazer super-heróis. Nada de ricaços infalíveis e perfeitos, mas
pessoas normais que se viam, de repente, portadores de poderes extraordinários.
Nas palavras de Stan Lee, seus personagens tinham, sob as botas de heróis, pés
de barro.
Esse conceito foi levado ao
extremo com um novo personagem surgindo em 1962: o incrível Hulk. Exposto aos
terríveis raios gama (Stan Lee adorava criar esses nomes estranhos), o
cientista Bruce Banner transforma-se num monstro irracional, mas de bom coração,
que é perseguido pela humanidade. Inicialmente o personagem era cinza, mas uma
falha de impressão fez com que ele saísse verde e essa passou a ser sua cor
oficial. Para desenhar o personagem, Lee chamou seu melhor desenhista: Jack
Kirby! Hulk era o ser mais poderoso da terra e ninguém melhor para desenhar
seres poderosos do que o bom Kirby. Anos mais tarde, Kirby afirmou que a idéia
para o personagem foi sua, após ver uma mulher levantar um carro para salvar
seu filho, o que o levou a concluir que todas as pessoas poderiam liberar seu
lado Hulk em determinadas situações.
Apesar do sucesso, a revista teve
que ser cancelada no número seis para dar lugar às novas criações de Stan Lee,
entre elas o Homem-aranha. Isso aconteceu porque Martin Goodman havia vendido
sua distribuidora, colocando todas as suas revistas nas mãos de uma
distribuidora que faliu. Assim, ele teve que ir rastejando, pedir para a rival
National (atual DC) distribuir suas publicações. Eles toparam, mas exigiram que
a Marvel não lançasse mais do que 12 revistas por mês. Assim, para lançar uma
revista nova, era preciso cancelar uma antiga.
No rastro das inovações, Stan Lee
pediu a Jack Kirby que fizesse um herói baseado na mitologia nórdica. Essa era
uma mitologia muito pouco explorada nos quadrinhos, mas segundo Lee, era a mais
dramática. Roberto Guedes, no livro Quando surgem os super-heróis, diz que
¨Kirby estilizou de forma ímpar os deuses asgardianos, indo além do figurino
trivial dos marmanjos vikings. A cidade de Asgard mais parecia um planetóide
alienígena, de charme inigualável¨. O personagem principal, o deus Thor, foi
mostrado não como um viking cabeludo, mas como um jovem loiro, de cabelos
longos, antecipando o visual dos hippies (posteriormente, Mark Millar
exploraria isso na série Os Supremos, mostrando Thor como um hippie
ecologista).
King tinha uma mente incrível
para grandes sagas e personagens fantásticos. Assim, ele criou vários
personagens ou locais marcantes, como Ego, o planeta vivo, a montanha de
Wundagore, os colonizadores de Rigel e O Registrador. Lee colaborava com o lado
humano e com as tramas bem elaboradas. Um expediente comum era colocar o
personagem numa situação insolúvel no final da revista. Na revista seguinte, a
situação era solucionada, apenas para dar lugar a uma situação ainda mais
complicada. Thor vivia uma verdadeira vertigem de aventuras. Além disso, King
usou na série um expediente absolutamente inovador: colagens de fotos que eram
misturadas aos seus desenhos, dando um charme especial às histórias.
Hulk e Thor são, até hoje,
personagens fundamentais para a Marvel Comics.