O lançamento do Quarteto Fantástico foi uma verdadeira
revolução no mercado, abrindo caminho para que a Marvel se tornasse a editora
predileta dos fãs. Mas o personagem que melhor representaria esse método Marvel
de fazer quadrinhos só surgiria em 1962. Trata-se do Homem-aranha.
Quando
Stan Lee apresentou a idéia para o personagem, todos na editora, especialmente
o dono, Martin Goodman, acharam que seria um fracasso. Afinal, ele não era
rico, era cheio de complexos e falhas de caráter e nem ao menos era bonito,
fisicamente. Além disso, todo mundo odeia aranhas.
Mas era
justamente nesses pontos negativos do personagem que Lee apostava. Ele achava
que os leitores iriam se identificar com aquele nerd que só se dava mal, era
rejeitado por todos, mas, quando vestia sua máscara, tornava-se o grande herói
da cidade. Para destacar ainda mais esses supostos aspectos negativos, Lee
chamou Steve Ditko, que fazia Peter Parker franzino, com cara de nerd. Jack
Kirby, o outro grande artista da editora, foi rejeitado por fazer o personagem
musculoso. A idéia era mostrar um perdedor que se tornava o herói do pedaço.
O
homem-aranha fez um sucesso imediato. A história mostrava o garoto frágil,
Peter Parker, vítima de gozação dos outros, que ganha super-poderes ao ser
picado por uma aranha radioativa. Inicialmente ele usa esses poderes para
ganhar dinheiro, apresentando-se na TV, mas tudo muda quando ele deixa escapar
um bandido, que depois irá matar seu tio Ben.
A partir de então, ele passa a adotar como lema uma frase do tio: ¨Com
grandes poderes vêm grandes responsabilidades¨ e usa suas novas habilidades
para ajudar as pessoas e combater os criminosos. Como contraponto, Parker
convive com uma tia super-protetora. Tornou-se comum a cena em que ele liga
para tia, ainda vestido de homem-aranha, e ela lhe diz para tomar cuidado, usar
agasalho para não se resfriar e, principalmente, tomar cuidado com o Homem-aranha.
A
série levou ao extremo os temas já abordados no Quarteto Fantástico. O
homem-aranha é extremamente humano. Ele fica doente, tem dúvidas sobre sua
atuação com herói, recebe foras das namoradas... Os poderes recebidos parecem
mais um fardo, um problema a mais para um garoto que enfrenta vários problemas,
entre eles o aluguel do fim do mês. A morte da namorada Gwen Stacy, na década
de 1970 mostrou a que ponto o realismo podia chegar: mesmo os protagonistas
poderiam morrer.
Uma
das histórias mais antológicas do personagem é aquela em que ele precisa
conseguir um composto químico capaz de salvar Tia May, mas esse composto também
está sendo procurado também pelo doutor Octopus. De repente o herói se vê preso
sob uma pesada viga. A seqüência mostra, em várias páginas, ele tentando se
livrar do obstáculo. Quando finalmente consegue levantar a viga, o frágil Peter
Parker é mostrado (no desenho de Steve Ditko) como um homem musculoso. É como
se o grande inimigo que ele precisasse vencer fosse a si mesmo e, ao se tornar
vitorioso, ele se tornava um herói. Era algo com que os adolescentes de
qualquer lugar do mundo podiam se identificar. Afinal, o que é a adolescência,
senão um período de dúvidas, dramas e vitórias?
A
grande qualidade dos artistas que passaram pelo personagem (Stan Lee e Gerry
Conway nos roteiros, Steve Ditko, John Romita e Ross Andru nos desenhos) só
fizeram resaltar o ar de mito que o personagem ganhou. Em todas as culturas há
histórias de jovens guerreiros que são desprezados pelos demais, mas que, nos
momentos decisivos, acabam salvando a aldeia, ou o reino, ou a cidade. Como
Davi, vencendo o gigante Golias.
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