Em 1997 a Gibiteca de Curitiba completava 15 anos
e surgiu a ideia de fazer uma revista em comemoração à data, Metal Pesado
Curitiba. Vários autores locais foram convidados e nove deles (incluindo eu)
resolveram fazer uma história só, com um super-herói curitibano.
Assim surgia o Gralha. Para dar mais
verossimilhança ao herói, inventamos que ele não era um personagem original,
mas uma atualização de um herói clássico, surgido em Curitiba na década de 1940
e criado pelo pioneiro Francisco Iwerten. Eu escrevi um texto de apresentação,
com a biografia de Iwerten e José Aguiar fez os desenhos usando como base o
visual criado por Edson Kohatsu.
Na época não tínhamos a menor ideia do impacto
que aquela única página teria sobre os quadrinhos nacionais.
As pessoas começaram a achar que Iwerten existia
mesmo.
O Capitão Gralha começou a aparecer em
cronologias de quadrinhos brasileiros, em matérias de jornais, em artigos de
revistas. Iwerten chegou a ganhar um prêmio e quase foi tema de uma escola de
samba.
Como quem conta um conto aumenta um ponto, a
história foi ampliando, em especial com o surgimento da internet. No meu texto
eu dizia que Iwerten visitara o estúdio de Bob Kane. Logo começaram a dizer que
ele estagiária no estúdio de Bob Kane. Pouco tempo depois surgiu o boato deque
ele havia criado o cinto de utilidades. Daí para dizerem que ele era o
verdadeiro criador do Batman foi um pulo.
Em 2014 finalmente resolvemos contar,
oficialmente que ele não existia (para uma plateia lotada e embasbacada na
Gibicon de Curitiba).
Isso nos liberou para “brincar” com a mitologia
do personagem – e um dos resultados disso foi o livro Francisco Iwerten,
biografia de uma lenda, escrito por mim e por Antonio Eder com ilustrações e
projeto gráfico de JJ Marreiro.
É um livro tipo vira-vira, com dois lados e duas
capas.
Em um dos lados, Iwerten é tratado como criador e
temos uma biografia fake do quadrinista: sua origem judaica, a paixão pelos
quadrinhos, a viagem para os EUA, os primeiros esboços para o herói.
No outro lado, Iwerten aparece como personagem
(com o desenho da capa mostrando-o sendo desenhado em um quadrinho). Neste lado
é contada a história “verdadeira” do nascimento da lenda: o conto de Mark Twain
que deu origem à ideia, a estratégia de matar Antonio Eder, que não deu certo,
mas serviu de base para a história, e, principalmente, a repercussão do caso.
Foi um dos meus trabalhos mais divertidos.
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