Há certos filmes que nos deixam uma sensação de paz de espírito, de
êxtase estético indescritível. Um deles é ENSINA-ME A VIVER, de Hal Ashby (1971).
Em ENSINA-ME A VIVER, Harold
é um rapaz obcecado pela morte conhece uma velhinha que o convence a ver a
viver a vida.
As cenas
iniciais, em que Harold simula a sua própria morte, são uma atração à parte. Em
uma delas ele se enforca, em outra ele corta os pulsos na banheira, em outra
ele morre afogado na piscina, sempre sob o olhar indiferente da mãe. A relação
da mãe é totalmente desprovida de carinho, mas cheia de autoritarismo.
Emblemática a cena em que ela resolve achar uma namorada para o filho e, na
hora de preencher a ficha, ela mesma preenche, enquanto Harold dá um tiro na
boca.
Então Harold
conhece uma velinha de 79 anos em um velório. Com muito cuidado, ela consegue
cativá-lo. A personagem é ótima. Maud rouba carros para passear e depois os
abandona. Quando Harold pergunta por que ela faz isso, ela diz que é para
lembrar às pessoas que as coisas materiais não duram para sempre e que,
portanto, não devemos nos apegar a elas. Maud diz que devemos ter uma emoção
nova a cada dia. Em outra cena, eles estão em um cemitério. Ela mostra uma flor
diz que o grande problema do mundo é que as pessoas são como flores, mas se
deixam tratar como túmulos. E a seqüência mostra as milhares de lápides, todas
iguais e todas perfiladas como soldados ou operários.
De certa
forma, Maud introduz na vida de Harold um olhar filosófico, de encantamento com
o mundo, um olhar de criança que vê tudo e se encanta com tudo. O curioso é que
ela, uma pessoa já no fim da vida, parece mais jovem que o rapaz, demonstrando
bem o adágio que a idade está não no corpo, mas na cabeça.
Como o
leitor deve estar advinhando, o rapaz acaba se apaixonando por ela e resolve se
casar. A reação da sociedade é expressa na forma da opinião de um padre, um
militar e um psicólogo. As cenas são com câmera parada, pegando os personagens
de frente, sempre na mesma mesa, para ressaltar a semelhança entre eles. Só o
que muda é o quadro de fundo. Na cena do militar, aparece Nixon. Na cena do
psicólogo, Freud. Na cena do padre, o Papa. O psicólogo diz, por exemplo, que
compreenderia que Harold tivesse desejo pela mãe, mas pela avó? A cena
caracteriza bem os aparelhos repressores de Althusser que, nas visão marxista
limitada, achava que eram só do estado e que tinham como único objetivo impedir
uma revolução socialista. Aliás, se o filme se passasse em um país socialista,
a figura de um político com a foto de Marx ao fundo seria inevitável...
Curiosamente,
mesmo os jovens hippies não foram capazes de entender a ideia do filme, que foi
um fracasso na época e só se tornou cult com o tempo.
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