Lendas foi o primeiro crossover da DC após Crise nas infinitas
Terras. Criado a partir de uma ideia de John Ostrander, teve como principal
roteirista Len Wein e a maior parte dos desenhos por conta de John Byrne (que
também fez as capas).
Aqui foi lançada pela editora Abril em uma minissérie de seis capítulos,
em 1988.
Se Crise era uma obra coesa, em que roteiro e desenho se casavam à
perfeição para compor uma obra que vai num crescendo até seu final apoteótico,
Lendas parece um bolo que desandou porque todo mundo botou a mão.
Para começar, a própria premissa não nada é original: Darkside
resolve acabar com os heróis (as Lendas) introduzindo um personagem que
controla mentes e faz a população ficar contra os heróis. Quem leu os
quadrinhos da Marvel na década de 1970 sabe que essa premissa foi usada em mais
de uma história. Além disso, o personagem que faz isso é muito mal construído. Gordon
Godfrey é um político? Um estudioso? Um jornalista? Ele surge do nada na história,
concedendo uma entrevista televisiva. Não há nenhuma explicação de porque ele
está sendo entrevistado e não temos nenhuma explicação de nada durante a série:
Godfrey não tem existência como personagem, é apenas um roteirismo, alguém
necessário para que a trama ande.
E, bem, a trama não anda. Há muitas idas e voltas, mas pouco
desenvolvimento. A ida do Superman para Apokolips, por exemplo, é totalmente
desnecessária e não contribuiu em nada para o enredo (tanto que no final dessa
subtrama o herói perde a memória do que aconteceu).
O desenho de Byrne ajuda a dar um charme para a série,
especialmente quando o roteiro está a cargo de Len Wein, que tenta salvar a
história como pode. Mas Byrne encontra tempo até mesmo para dar uma alfinetada
em seu antigo-chefe, Jim Shoter, colocando-o como vilão em uma sequência
totalmente desnecessária. Como àquela altura ele era um astro dos comics,
parece que ninguém teve coragem de dizer que aquelas quatro páginas não
encaixavam na trama.
Um dos piores capítulos é o segundo, escrito por John Ostrander e
desenhado por Joe Brozowski, focado inteiramente em Nuclear, em que a subtrama
se resolve com... tortas na cara. Não, não é brincadeira. A trama se resolve
com tortas na cara.
Lendas foi um verdadeiro samba do Byrne doido.
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