Pimpinela Escarlate, de autoria da Baronesa de Orczy, foi escrito
em época pouco posterior à Revolução Francesa e conta a história de um
misterioso personagem que se empenha em tirar nobres da França numa época em
que ser nobre na França era ser freguês da guilhotina. É um dos livros de
propaganda disfarçada de ficção mais antigos que conheço. Escrito por uma
nobre, mostra os nobres como heróis e os plebeus como vilões magros e astutos
que esfregam as mãos magras a cada minuto, maquinando planos diabólicos. Em
vários sentidos, Pimpinela Escarlate é um precursor de heróis como Batman e
Zorro (inclusive no que diz respeito ao maniqueísmo com que os personagens são
apresentados). Uma das características que o vão diferenciar dos heróis
clássicos e aproximá-lo dos super-heróis é a necessidade de uma identidade
secreta.
O primeiro capítulo é promissor. No portão oeste de Paris
está o sargento Bibot, um astuto revolucionário com faro sem igual para
descobrir aristocratas disfarçados em fuga. Era como uma brincadeira de gato e
rato. Bibot fingia-se iludido pelo disfarce, mas quando o pobre nobre
atravessava o portão e sentia-se livre, o sargento mandava em seu encalço dois
guardas que o traziam de volta diretamente para os braços da mãe Guilhotina.
Bibot está sentado sobre um barril vazio e conta divertido
as novas sobre um tal Pimpinela Escarlate. Recentemente uma fuga pelo portão
norte colocara toda a guarda em prontidão.
Bibot, divertido, conta como ser dera a fuga. O pobre
sargento responsável pelo portão Norte vira-se às voltas com um carroça cheia
tonéis de vinho puxada por um velho acompanhada por um menino. Zeloso, o
cidadão examinou os tonéis e, achando que estavam vazios, deixou passar. Meia
hora depois chegou uma patrulha perguntando pela carroça. Ao saber que haviam
deixado passar, os soldados correram pelo campo, em busca de sua presa. Quando
a platéia lamentava a displicência do responsável pelo portão norte, que não
revistou direito os tonéis, vem a revelação: na verdade, os guardas eram o
Pimpinela Escarlate e os aristocratas por ele salvos...
Todos comentam entre si a astúcia do Pimpinela, mas Bibot
assegura que nem toda essa astúcia o salvará. É quando uma velhinha, que
passara o dia inteiro tricotando e se regozijando com as cabeças cortadas pela
guilhotina, se aproxima do portão com sua carroça. Bibot pergunta se ela
voltará no dia seguinte, e ela responde que provavelmente não, pois seu netinho,
que está dentro da carroça, está com varíola, ao que toda a audiência recua.
“Saia daqui imediatamente, mulher!”, ordena o sargento, para descobrir, depois,
que a velhinha era ninguém menos que o Pimpinela Escarlate.
A esse início promissor segue-se uma narrativa com todos os
vícios do romantismo. Uma pena, mas a novela deixou um legado: Pimpinela é o
precursor dos heróis dos pulps e dos quadrinhos de super-heróis...
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