Hair é um dos filmes
musicais mais famosos de todos os tempos. Dirigido por Milos Forman e lançado
em 1979, tem uma trilha sonora realmente épica. Mas o filme se destaca também
pelo roteiro muito bem amarrado.
A história, baseada
num musical homônimo da Brodway, acompanha as aventuras de um rapaz do interior
do Texas que vai para Nova York se alistar para a guerra do Vietnã e conhece um
grupo de hippies. O filme mostra os bastidores da contracultura da época em
meio às críticas à guerra.
A trama inicia com Claude
Bukowiski se despedindo do pai e pegando o ônibus para nova York. A imagem foca
na pequena cidade e na capela local para depois pular para uma cena em pleno
central park, com uma arrebatadora interpretação da música Aquarius.
É quando o protagonista
conhece um quarteto hippie liderado por Berger, e vê se apaixona por uma
garota rica, Sheila Franklin, que passa por ali num cavalo.
Os hippies conseguem
dinheiro e alugam um cavalo, mas são incapazes de manejá-lo e o perdem. Bukowiski
consegue resgatar o cavalo e, estimulado por Berger, vai atrás da moça pela
qual se apaixonou, fazendo uma exibição de montaria.
Segue-se uma
sequencia em que os personagens consomem haxixe. Nessa cena temos a primeira
aparição da música “Manchester England”, cantanda inicialmente por Berger, mas
que se refere a Claude: “Eu sou um gênio gênio/Eu acredito em Deus/ E eu
acredito que Deus/Acredita em Claude/Que sou eu que sou eu/ Claude Hooper
Bukowski”. A letra da música é usada tanto para caracterizar o personagem
Claude como alguém ingênuo, como ironia por parte de Claude. No final do filme,
essa música voltará com outro significado.
A famosa cena da festa. |
Chegamos finalmente à
famosa cena da festa. Berger tem a ideia de invadir uma confraternização da família
Franklin para que Claude possa ter a chance de ver Sheila antes de ir para o
Vietnã.
Mas o grupo acaba
preso.
Quando são finalmente
liberados (graças ao dinheiro da mãe de Berger), eles vão para o Central Park,
onde Claude experimenta pela primeira vez LSD enquanto Jeannie, uma das
hippies, pergunta se ele não gostaria de se casar com ela para escapar da
convocação para a guerra.
A “viagem” de Claude mostra
o quanto o roteiro é bem amarrado: as imagens são resultado direto dos ganchos
do roteiro: a sugestão de Jeannie, a capela que aparece na primeira sequência,
os Hare Krishna que passam cantando, Sheila, a festa invadida, está tudo ali,
como se todos os acontecimentos mais recentes tivessem se misturado e
embaralhado na cabeça do personagem.
Em seguida, Claude
vai para o treinamento militar e Berger tem a ideia de visitá-lo. Com uma
manobra conseguem o carro da família de Sheila, que vai junto para ver pela última
vez o seu amor.
Mas quando chegam na
base é impossível entrar: estão todos em alerta e os soldados não podem ter
contato com civis. Sheila engana um sargento, rouba-lhe a roupa e o carro e
Berger consegue entrar na base para levar Claude para o floresta, onde o grupo
de hippies o espera.
Mas claude discorda:
há contagens o tempo todo e ele não pode se ausentar.
A solução é sugerida
por Berguer: trocar de lugar com Claude.
Aí surge a grande
sacada do filme: enquanto Claude visita os hippies, o grupo de soldados é chamado
a embarcar para a guerra. Berger tenta escapar, mas não consegue e acaba
embarcando no lugar do amigo.
A trilha sonora e a
sequência seguinte, em um cemitério deixam claro que ele morre no conflito.
A música "Manchester England" é resignificada no final do filme |
Esse plot twist tem
sido celebrado por críticos com o ponto alto do filme. Mas há uma outra sacada
genial: enquanto marcha para o avião, Berger canta a música que inventara para
Claude logo no início do filme. Mas agora não há nada de alegre nela e a nova
situação torna a letra totalmente irônica: “Eu sou um gênio gênio/Eu acredito
em Deus/ E eu acredito que Deus/Acredita em Claude/Que sou eu que sou eu/ Claude
Hooper Bukowski”.
Se a primeira sequência em
que a música aparece, ela se refere a Claude, aqui ela se refere a Berger: sua
ideia parecia genial, mas foi um desastre e agora ele é Claude. Ao usar a mesma
música em dois momentos chaves do filme, com sentidos completamente opostos, o
roteirista mostra que pensou o filme como um todo e foi capaz de brincar com
seus significados das letras.
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