Em 1951, o mundo parecia odiar os quadrinhos. As denúncias do psicólogo Fredric Werthan (segundo o qual os gibis eram os responsáveis pela delinqüência juvenil) haviam provocado a instalação de um inquérito no senado norte-americano. No Brasil, os professores tiravam cinco minutos em todas as aulas para falar dos perigos desse novo meio de comunicação. E as crianças que se aventuravam a levar gibis para a escola acabavam vendo suas revistas queimadas nos pátios na hora do recreio.
Nesse ambiente extremamente negativo, surgiu a primeira
exposição internacional de quadrinhos e o primeiro evento a destacar o caráter
artístico da nona arte. E essa exposição aconteceu no Brasil, por fãs, que
depois se tornaram alguns dos mais importantes quadrinistas brasileiros.
O grupo era composto por Jayme Cortez, Syllas Roberg, Reinaldo
de Oliveira, Miguel Penteado e Álvaro de Moya. Para montar a exposição, eles
enviaram cartas para alguns dos principais quadrinistas americanos, pedindo
originais. Surpreendentemente, foram atendidos. De repente eles se viram com
originais de Ferdinando, de Al Capp, Flash Gordon e Nick Holmes, de Alex
Raymond, Buzz Sawyer, de Roy Crane, Steve Canyon, de Milton Caniff, Big Bem
Bolt, de Johnny Hazard e até mesmo uma página do raro Karzy Kat. Como os
quadrinhos não eram considerados arte na época, ninguém se preocupava em
guardar originais. Entre jogar no lixo e enviar para uma exposição no Brasil,
ficaram com segunda opção, daí a facilidade de conseguir material.
Além dos originais, havia um painel com desenhos de Spirit, de
Will Eisner, com um texto explicando como o autor explorara a linguagem dos
quadrinhos.
Outro painel mostrava os escritores ligados de alguma forma aos
gibis, como John Steinbeck, Thomas Mann, Thorton Wilder e Dorothy Parker.
Outro painel mostrava ilustrações de livros infantis que haviam
sido calcadas de histórias em quadrinhos (um exemplo era o trabalho de André Le
Blanc, que ilustrava os livros de Monteiro Lobato e, posteriormente foi para os
EUA, onde se tornou assistente de Will Eisner).
O objetivo da exposição era mostrar que, por trás dos gibis ou
das tiras, havia toda uma linguagem artística sendo criada, que deveria ser
considerada. Entretanto, os resultados não foram os esperados. Os editores de
quadrinhos, ao invés de incentivar os organizadores da exposição, passaram a
persegui-los, achando que eles queriam banir os comics importados, trocando-os
por material nacional. Muitos perderam seus empregos e foram para a
publicidade. Miguel Penteado e Jaime Cortez fundaram uma editora, a Outubro,
que publicava só quadrinhos nacionais.
Anos depois, num encontro em Nova York, os intelectuais
franceses se vangloriavam de terem sido os primeiros a perceber a importância
dos quadrinhos, ao que Milton Cannif respondeu: ¨Muito antes de vocês,
europeus, os brasileiros fizeram uma exposição, falando as mesmas coisas que
vocês falam agora¨.
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